sábado, 7 de maio de 2011

Saudade é uma palavra bem portuguesa

O único lugar onde sou capaz de ficar horas a fio sem fazer nada é na praia. Adoro ficar ali estendida, qual lagartixa, e, por favor, não me macem com raquetes ou com bolas de voleibol, que eu não suporto essas coisas. O único tipo de movimento que consigo admitir é o de me virar, ora de barriga para cima, ora de barriga para baixo. E ir até à água, claro, e ficar a chapinhar lá por um bocado. Sem ondas, de preferência. Sim, eu sou extremamente aborrecida na praia e gosto de ficar ali a curtir a minha música ou a ler o meu livrinho sem ser incomodada. Ou, simplesmente, a dormitar. Ora bem, aqui em Hasselt estão vinte e sete graus. Temperatura mais que convidativa para procurar um bocadinho de areia e um bocadinho de mar. O problema é que esse bocadinho de areia e esse bocadinho de mar estão a quase três horas de distância. Ah, e o mar chama-se Mar do Norte, facto que não me inspira muita confiança no que à sua temperatura diz respeito. Como o único lugar em que consigo estar sem fazer nada é a praia, levantei o meu rabinho da minha caminha e fui aproveitar o calor que se faz sentir na rua. Os Belgas estão loucos. As meninas tiraram os short shorts do armário e até os homens andam de sandálias. Estão todos vermelhuscos, das horas passadas no parque a levar com os raios ultravioleta. Resolvi imitá-los e comi um gelado de maracujá. Também andei a ver lojas e descobri   paraíso-dos-sapatos-acessíveis-à-minha-carteira-já-que-não posso-comprar-uns-Louboutin. Foram uns bons quarenta e cinco minutos de entretenimento, mas depois voltei a sentir-me aborrecida. Nestes lazy days, quando está Sol e não se faz nada na residência, batem as saudades. Sinto falta do peixe-espada com molho de manteiga e das amêijoas à bulhão-pato. Tenho saudades de não ter de olhar para uma lista de cem cervejas quando quero beber qualquer coisa fresquinha. Faz-me falto o areal pequenino e desconsolado da linha de Cascais e as praias com ondas a mais (para mim, que sou preguiçosa) lá para os lados da Caparica. Quero ir para um Starbucks com o meu computador, jantar a ver o Tejo e sair para o Bairro Alto. Quero algo tão simples como um pastel de nata! E quero, mais que tudo, ter conversas a sério. O mal de ser a única portuguesa aqui do sítio é que todas as conversas estão limitadas a um determinado vocabulário, lá está, muito limitado! A maioria dos Espanhóis é demasiado preguiçosa para puxar pela cabeça e falar em Inglês durante muito tempo. Outros não são assim tão preguiçosos, mas simplesmente não conseguem. E depois, eu, com o meu Espanholês (que está a melhorar muito, diga-se de passagem), não consigo ser levada a sério por muito tempo. Então pronto, os temas de conversa ficam-se por dizer mal do grupo dos manientos, manifestar saudades da comida da mãe e comentar os atributos físicos dos médicos da Anatomia de Grey. Sim, é verdade que estou a exagerar…. Mas, resumindo e concluindo, e aqui fica o porquê de tanta queixa, o que me faz falta é um amigo do peito. Antes tinha o Italiano, mas ele arranjou uma namorada Espanhola e o Erasmus deles acabou, agora é só “Orgasmus”. Ele era o único que era capaz de acompanhar o ritmo do meu Inglês, cada vez mais acelerado. E sim, eu tento falar mais devagar, usar palavras mais fáceis, mas a verdade é que para as Espanholas é mais fácil desatarem a falar lá na língua delas do que fazerem o esforço. Desde que descobriram que eu consigo perceber tudo aquilo que dizem, então, nunca mais se preocuparam muito. E, não me interpretem mal, 99,9% das vezes eu vivo perfeitamente bem com isto e divirto-me à grande na mesma. Mas hoje… Hoje é o meu lazy day!
Fica então um abraço apertadinho ao Tiago e ao bolo de nozes caseiro a altas horas da madrugada, à Cátia Bruno e aos doces de perder a cabeça do Chiado, à Travassos e às pizzas de frango e natas, ao Ricardo e aos cafés que duram quatro horas, à Maria Inês e às peças de roupa fantásticas que só ela consegue descobrir, ao Diogo e ao sorriso que é capaz de me emprestar seja em que altura for, ao Rúben e ao café que ainda vai acontecer, aos Centeno e às festas que só eles fazem, ao Pombo e aos chás que ainda quero provar, à Cláudia e ao Marco e a todos os bocadinhos bem passados, à Rita e aos croissants ao lado da ESCS, à Joana e à Ana e às conversas de gente crescida, ao Nando e à amizade que permanece mesmo que não nos vejamos tantas vezes quanto gostaria… Enfim, peço desculpa se me esqueci de alguém, mas se têm saudades minhas eu também tenho vossas, muito provavelmente. E um obrigada muito especial a todos aqueles que estão a seguir e que me dão na cabeça por eu não publicar textos.
E pronto, lamechices à parte, eu volto em breve para falar de Amesterdão.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Actualizações

OK, sei que não tenho dado notícias aqui no blog, mas a verdade é que, apesar de ser tudo muito giro, tem sido mais do mesmo. Agora que me começo a habituar, a vida não é assim muito diferente de Lisboa… bem, há muito menos stress e chatices, mas a verdade é que também há menos amigos para conversar.

Não me interpretem mal! Eu estou perfeitamente integrada e divirto-me sempre com as pessoas daqui. E não só… Quando precisei tive quem fosse comigo ao médico ver das minhas amígdalas ranhosas, que se inflamam duas vezes por ano, e aqui não foi excepção. Também me emprestaram dinheiro quando dei conta que tinha deixado a carteira em casa na altura de pagar o frango que mais tarde seria o meu jantar. E também me ouviram falar durante horas sobre as minhas dúvidas existenciais em relação ao futuro profissional. Mas falta alguma coisa. Faltam os velhos amigos, as pessoas em quem confio de olhos fechados. Só a título de exemplo, no outro dia houve um rali tascas. Tudo muito bonito, mas eu com muita cerveja preciso de ir muitas vezes à casa de banho. E numa das minhas quinhentas deslocações ao piso superior do bar onde a dita cuja se encontrava, regresso para descobrir que tinham ido para o bar seguinte sem mim. Mais tarde falei com alguns deles e disseram-me que acharam que eu tinha ido para casa… Minha gente, se eu for para casa, aviso! Enfim, o trauma foi grande o suficiente para ficar com medo de apanhar bebedeiras, não saber voltar à residência e não ter um guia! Bem, mas era mais fácil isso acontecer por causa do meu péssimo sentido de orientação do que pela quantidade de álcool ingerida. É que eu sou muito forreta. Para beber duas cervejas, já vou nos seis euros… E a maior parte das vezes uma só já é suficiente para me deixar (mais) vulnerável a ataques de riso.
Dizia eu, antes destas divagações, que tem sido um bocadinho mais do mesmo. Acordo, vou às aulas (normalmente é só uma), almoço pela residência, fico na conversa na cozinha, ouço música, vou ao ginásio, tomo banho, janto e vamos até um bar qualquer. Às vezes vemos filmes. Eu e a Marina, a galega, temos visto Anatomia de Grey. Ela faz-me o favor de ver em inglês com legendas em espanhol, antes via dobrado. Credo. Imagino o episódio das cantorias em espanhol. “Glee meets Grey: Spanish Version - una experiencia traumática que nunca olvidará”. Agora, que tem estado calor vamos almoçar ao parque muitas vezes. Vamos de bicicleta. Primeiro compramos entrecosto já grelhado no mercado, uns pacotes de batatas, cerveja, sumos e lá vamos nós. Está sempre cheio de gente sedenta de Sol! E não há cocó de cão. Isto acontece às Terças, porque é quando o mercado está aberto. Às Sextas também está, mas estamos a dormir porque Quinta-feira é noite de Versuz, a discoteca cá do sítio. Lá está, vamos sempre aos mesmos sítios. Acho que as coisas que mais me fazem falta é um jantar fora, um cinema, umas lojas abertas depois das seis da tarde… Mas por um lado, ainda bem que não estão abertas. Se fecham tão cedo e já é o que é, se fechassem tarde era uma desgraça. Vou precisar de um truque de magia para levar as coisas para Lisboa, quando isto acabar. A roupa tem-se multiplicado no meu armário e há quem julgue que ando a fazer criação. Mas há duas H&M num espaço de dez minutos  a pé. E uma Zara. E uma loja de sapatos com coisas giríssimas e não muito caras. Enfim, este é um problema que trouxe de Lisboa e que vou sempre levar comigo, para onde quer que vá.
Mas ora bem, planos para sair desta rotina, que, apesar de ser agradável, não deixa de ser, lá está, rotineira: o namorado vem cá seis dias, aproveitar as férias da Páscoa, minhas e dele! Yay! De certeza que vou dar uns passeios por Bruxelas e Bruges, na próxima semana. Depois, logo em seguida, Amesterdão! Vem aí época festiva na Holanda  e parece que é diversão a não perder. E depois recomeçam as aulas... Mas eu às vezes juro que me esqueço de que estou de férias… Para mim é como se elas já tivessem começado em Janeiro, desde que vim para aqui. É, a vida de Erasmus é muito complicada!


PS: Obrigada por me espicaçar, caro Anónimo do comentário ao post anterior!

quinta-feira, 31 de março de 2011

Alunos em fuga

Acordei às oito e meia da manhã sem saber muito bem a que horas seria a minha aula. O horário mudou esta Segunda-feira e eu ainda estou um bocadinho confusa. Mandei uma mensagem a uma das espanholas e a resposta não podia ter sido pior: às nove. Muito bem, meia hora para me vestir e tomar o pequeno-almoço. Não sei porquê, desde que vim para aqui sou incapaz de sair de casa sem o tomar. A minha mãe é que vai ficar muito contente com este hábito recém-adquirido! Enfim, lá devorei o mais depressa que consegui a mistura de corn flakes, iogurte natural e bocadinhos de maçã e voei para a faculdade. Já lá estavam a Paula e o Xino. Ficámos os três à espera do Professor até às 09h15. A Paula espreitou pela janela e viu-o a atravessar o parque de estacionamento. Nesta altura, eu, que estava toda encolhida num canto, a dormir encostada ao aquecedor, disse com voz de sono: "We should run!" Qual não é o meu espanto quando a Paula e o Xino desatam a  correr pelas escadas de serviço! E lá me levantei e fui atrás deles. Voltei a casa e dormi até à uma da tarde. Quero frisar que não é sempre assim. Aquela aula é muito maçadora e ainda ninguém percebeu muito bem o que estamos lá a fazer. Aquilo chama-se Current Affairs e era suposto falarmos sobre o que se passa no mundo, mas só falamos da Bélgica e da sua falta de governo! Pronto, foi uma vez sem exemplo, e eu estava mesmo a precisar de dormir!

sábado, 26 de março de 2011

O Ginásio

Quando para aqui vim, já trazia a ideia de que deveria aproveitar este tempo para me dedicar exclusivamente a mim mesma. Estava mais preocupada com questões do espírito e com resoluções face a um futuro próximo que me vai atirar para o mercado de trabalho, mas já vinha com vontade de procurar um ginásio. Durante séculos prometi a mim mesma que agora é que era, que ia transformar algum deste bom bocado de perna em músculo, para continuar a ser bom mas mais rijinho. O agora demorou a chegar, mas chegou. Isto de ter tempo livre e de viver numa cidade pequena onde o ginásio é a cinco minutos, muda tudo! E o facto de pagar 25 euros por mês - em Lisboa, o mais barato que consegui foram 50 - também ajuda muito!

É francamente divertido. Aqui da residência somos para aí nove inscritos,  portanto há sempre alguém que arrasta o outro para o ginásio quando a preguiça parece prestes a vencer. No princípio ia para as máquinas:  alinhávamo-nos todos nas passadeiras e era ver-nos correr durante meia hora. bem, na verdade, eu era mais a andar depressa. Correr não é a minha cena, que me dá dor de burro. Passava mais tempo nos abdominais e nos agachamentos. Depois descobri as aulas. Comecei por ir às de Zumba. A Zumba é uma espécie de aeróbica em que se misturam passos de mambo, salsa e essas coisas latinas. Uma pessoa farta-se de saltar e de abanar as ancas... Quem as consegue abanar, claro. É sempre divertido ver as belgas a tentar! A mim a professora veio perguntar-me se eu já tinha dançado antes. Eu sabia que os anos de ballet, dança criativa, hip hop e danças de salão ainda iam servir para alguma coisa. Bem, a verdade é que o facto de ela vir falar comigo serviu para me motivar e a experimentar mais aulas. Existe o Sh'bam, que é também uma dança toda acelerada, em que uma pessoa salta muito e abana os músculos todos. Cansa para burro! Mas é capaz de ser a mais divertida, seguida de perto pela tal de Zumba. Depois resolvi experimentar o Body Pump. Não sabia muito bem ao que ia e assustei-me quando vi o pessoal a tirar barras e pesos e steps e colchões. Uma montanha de apetrechos! A professora lá pôs a tocar o Telephone da Lady Gaga e dei por mim a levantar e a baixar uma barra de quatro quilos. A meio troquei para dois, porque achei os meus braços se iam desfazer em papa se eu continuasse por muito mais tempo. E como se não chegasse, a senhora ainda nos pôs a fazer flexões. E eu que nem uma conseguia fazer, depois de três aulas de Body Pump já sou capaz de fazer três. É uma grande conquista! Sim, eu sou masoquista e voltei às aulas de Body Pump. Sempre que saio de lá venho a arrastar-me para casa e acabo completamente imóvel em cima da cama. Também experimentei o Step, mas para mim aquilo é muito confuso e não atino com os passos. Se bem que apreciei o exercício abdominal a que somo submetidos lá mais para o fim da aula.

No ginásio também descobri a Sauna. Mas meter-me numa sala fechada onde está muito, muito calor e onde as belgas se põem todas nuas e escancaradas, não é muito a minha cena. Por acaso foi giro de ver: eu e as espanholas todas num cantinho embrulhadas em toalhas e uma senhora dos seus cinquenta e muitos ali toda nua a ocupar o mesmo espaço que eu e três das minhas amigas ocupávamos.

Resumindo e concluindo, tenho ido cinco dias por semana ao ginásio. Se não servir para eu ir exibir o melhor corpo de biquíni de sempre no Verão em Portugal, pelo menos já serviu para me divertir e para me sentir com mais energia. E sempre dá para controlar os estragos que o Erasmus pode fazer. É que para além das waffles e batatas fritas, existem as massas do Italiano, o chocolate que há sempre alguém que me oferece, as tortilhas espanholas e as pizzas para quando não apetece cozinhar. Ontem, por acaso, jantei salada. Mas já compensei devidamente com o meio pacote de bolachas que comi esta manhã.

terça-feira, 22 de março de 2011

Três dias em Estocolmo



No dia 3 deste mês fui a Estocolmo. Fui convencida pelos meus amiguinhos daqui com uma viagem de oito euros, ida e volta, e a promessa de que teria alguém a segurar a minha mão durante o voo, porque eu borro-me de medo dos aviões! Na véspera estávamos todos descansadinhos a almoçar - às quatro da tarde e ainda em pijama - quando entra a Virginia pela cozinha dentro com uma expressão de pânico no rosto. "Amanhã há greve dos comboios, temos de ir ainda hoje para o aeroporto e passar lá a noite", disse ela. E pronto, foi uma correria. Oito macacos a meter roupa para dentro das malas, a despachar trabalhos que tinham de ser entregues antes do fim-de-semana e a fazer sandes para a noite, que se adivinhava longa.

Chegámos ao aeroporto e ainda eram onze da noite. A viagem estava marcada para as nove e meia da manhã e, como tal, arranjámo-nos como pudemos par ficarmos minimamente confortáveis. Perto da meia-noite os rapazes italianos, o Alessandro e o Giacomo, chamaram-me discretamente. "O que foi?", perguntei. E mostraram-me uma garrafa de champanhe. "É para os anos do Xabi, que são amanhã... Distrai-o!" E lá levei o Xabi à máquina de café, para investigar que bebidas para lá havia. Dez minutos depois fomos rodeados pelos outros e eu acabei por levar um banho de champanhe por solidariedade para com o aniversariante... E afinal não era uma, mas quatro garrafas. Portanto, pobres, a dormir no chão do aeroporto,  mas com champanhe.

Já perto da hora de embarque alinhámo-nos todos na fila para mostrar o nosso bilhete de identidade. A Marina procurava, procurava e não encontrava e, já perto das lágrimas, disse que o tinha deixado no bolso das calças do dia anterior. Nos tentámos tudo: fomos à Polícia dizer que alguém tinha roubado a carteira - e pusemos os guardas a ver as camaras de vigilância - fomos ao balcão da Ryanair, propusemos ir até à embaixada espanhola para arranjar identificação provisória... Mas nada! A Marina ficou mesmo em terra e eu nesta altura já só queria ficar com ela. Lá tiveram de me convencer a embarcar outra vez e, quando me sentei no avião, tinha mais gente a querer dar-me a mão do que mãos para lhes dar!
Quando chegámos a Estocolmo fui surpreendida pela neve. Sim, já me tinham dito que, muito provavelmente, ia encontrá-la, mas nunca pensei que fosse naquela quantidade! Eu nunca tinha visto neve na vida e para mim os primeiros cinco minutos foram muito lindos, depois confesso que fiquei enjoada. Ora bem, a neve pode ser muito branquinha e muito bonita, mas tem um inconveniente: para nevar é preciso estar muito frio. Muito, muito frio! E eu tinha uma tshirt, duas camisolas e um colete. E o casaco gigante e feio que dói por cima. Mas eu queria lá saber de modas! Ainda enfiei um gorro, umas leggings, calças e dois pares de meias daquelas de lã, muito grossas. À minha volta os suecos andavam a dizer que estava muito calor e que parecia quase Verão. Eu acho que aquela gente não sabe viver. Vi montes de indivíduos quietos, cara voltada para o Sol e olhos fechados, a aproveitar o "calorzinho". Era como se estivessem na praia, mas cheios de cachecóis e luvas e afins. Enquanto isso comiam gelados e eu desesperada por uma bebida quente. Outra coisa chata dos países frios é o gelo no chão. De que serve não ter na Suécia a calçada portuguesa que não deixa andar de saltos, se temos uma fina camada de perigo iminente? A minha derrière não aprovou. Andei dorida por três dias!

Mas sim, é tudo muito bonito. Eu no fim até disse que era giro ir para uma casinha de praia com uns trinta graus lá fora e ter postais da Suécia pendurados na parede. Aquelas paisagens davam postais mesmo giros! E lá na Suécia têm cidra, aquela espécie de cerveja com sabor a pêssego, frutos vermelhos, pêra... Eu gostei muito e estava a beber muito entusiasmada até perceber que cada uma tinha 10% de álcool. Não teve importância, ao fim de quattro já nada me deixava muito aborrecida.

Enfim, Estocolmo é, de facto, uma cidade muito bonita. Não a achei muito prática, mas deve ser uma questão de hábito porque vi lá uma rapariga com uns saltos enormes e também vi um homem a correr (o que me fez ter vergonha de parecer uma pata choca a andar na rua). Gostava de a ver no Verão porque me disseram que é tudo muito verdinho, mas não é este ano, de certeza! Depois de tantos dias na arca frigorífica, em Julho vou mas é para a praia e para os quarenta graus à sombra, que lá é que se está bem!



quarta-feira, 16 de março de 2011

A vizinha do lado

Não conheço quem não tenha um vizinho com um parafuso a menos.
O de uma amiga minha atirou-se da janela. O de um amigo meu fazia todos os dias sessões dignas de uma canal para adultos. E o meu, lá de Lisboa, foi oferecer um livro de sadomasoquismo à minha mãe porque ela foi muito boa médica. Um livro escrito por ele! Ora bem, esse vizinho gosta de me dar beijos repenicados quando me vê e, como é jornalista, gosta de me convidar para um ou outro trabalho - que, regra geral, envolvem algum escândalo relacionado com prostituição. É bom senhor, coitado,  mas eu, antes de sair de casa, verifico sempre se ele está no meu caminho. É que, às vezes, não apetece mesmo nada estar ali a fazer sala no meio do hall do prédio!

Mas quando vim aqui para as Bélgicas, já sabia que ia continuar a ter vizinhos. E isso assustava-me um bocadinho, confesso. Também, com as histórias que para aí se ouvem, não admira nada! Quem não conhece o caso da Amanda Knox, a rapariga com cara de anjo acusada de estar envolvida na morte da colega de casa, após uma série de joguinhos sexuais? E, diga-se de passagem, eu aqui moro no ground zero, aquele em que uma pessoa acorda assustada no meio da noite porque os bêbedos estão a bater à janela...Portanto, tranco-me toda e nunca, em caso algum, abro as cortinas.

Um dia destes estava eu a dormir descansadinha da vida, quando, por volta das dez da manhã, alguém bate à minha porta. Dez da manhã já é uma hora normal de se acordar, então levantei-me, meio a custo, e abri a porta. Era uma rapariga gira que eu já tinha visto andar por ali. Trazia os olhos vermelhos e uma expressão carregada. " Eu não queria incomodar... E se calhar vais achar-me maluca por isto, mas tenho de te perguntar: viste o meu namorado, aquele rapaz com quem estava ontem, com outra rapariga?" Amaldiçoei o momento em que me levantei para abrir a porta. Não, não tinha visto. E numa tentativa de mostrar empatia lá convidei a moça para entrar e sentar-se um bocadinho. Maldita a hora em que o fiz...

Ora vamos lá ver como é que se resume isto!
A rapariga é do Ruanda. Veio para cá estudar e tem um nível de inglês que sim, senhora! Deu-me luta, e aqui ainda não tinha encontrado ninguém que o fizesse - não porque sou muito boa, eles é que são muito maus. Tem dezanove anos e já teve uma mão cheia de namorados. O primeiro foi reles, meio a brincar, meio a sério. O segundo era branco  e, segundo ela, os brancos não prestam porque são muito morninhos e maus na cama. "Ele chamava-me de princesa! Eu não sou uma princesa, eu tenho uma vida dura!", queixava-se ela... Depois veio o preto. Segundo ela os pretos são bons na cama, mas um pouco agressivos. "Se te batem estás lixada!", disse-me ela. E lá sabia do que falava. O primeiro preto que namorou não, que era um amor, mas o segundo fez-lhe a vida negra. E o olho e o braço e o nariz e a perna e mais qualquer coisinha lá para o meio. Depois de lhe dar porrada da primeira vez, voltou com um taco de basebol. Como ela não lhe abriu a porta, ele esticou-se em frente à casa dela, à espera de que um carro lhe passasse por cima. Não passou. Ao que parece aquela rua era meio parada. Acho que o rapaz não voltou a dar sinais de vida, mas não tenho a certeza. Ela saltou directamente para o Marroquino, que é o namorado actual, o tal que ela temia estar a pular a cerca. "Eu acho que ele tem medo de mim", disse ela. "Eu bato-lhe com os tacões dos saltos". Pois, eu compreendo o rapaz, a partir daquele momento eu também fiquei com medo. "Ele é meio atrasado! Eu discuto com ele e faço birra e ele, o que é que faz? Leva-me para hotéis! Eu digo que não estou bem e ele saca dos cartões de crédito. É para os hotéis e para as compras! Basta eu ligar e ele vem a correr!" E eu que tinha começado aquela conversa com um "tens de largar esse rapaz", nesta altura já estava a pensar "foge, rapaz, foge!" E não sei porque raio ela me veio perguntar se eu tinha visto o namorado com outra rapariga, se foi ela quem acabou por me confessar que faltava ao Marroquino alguma coisa nas partes baixas - encontrou-a com outros rapazes por diversas vezes e continuou a deixar o cartãozinho de crédito à disposição de sua excelência.
Enfim, lá acabei por despachar a menina... Ao fim de hora e meia, não sei se por ser parva, se por ter ficado petrificada com a história dela! Dias depois conheci o Said, o namorado corno. Pediu-me o facebook e disse que o meu cabelo era lindo. Fugi a sete pés. Eu cá não quero confusões com a maluca da vizinha.

Guess who's back

Depois de passeios em Estocolmo e de soprar vinte e três velinhas em Lisboa (foram só duas, mas isso não interessa nada), estou de volta com histórias e novidades!

Obrigada a todos aqueles que foram aparecendo por aqui, em busca de algum pedacinho de texto.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Justificações

Isto de ter de escrever 12000 caracteres em reportagens todas as semanas torna as actualizações do blog muito complicadas! Fico dois dias inteiros em frente ao computador a verificar o tradutor do Google e a espreitar o dicionário de Inglês... Isto para não dizer que o Sr. Professor exige que façamos um trabalho original, ou seja, nada de fazer como os jornalistas a sério, que vão buscar as fontes à Lusa. Nós temos de fazer um trabalho nosso, com pesquisa nossa. E isso deixou-me a pensar... Agora os jornalistas a sério ficam com o rabo sentado na cadeira do escritório à espera de que as notícias lhes venham cair no colo. Até nas redacções televisivas se andam a cuscar uns aos outros para saber quem abre o jornal da noite com o quê e limitam-se seguir as sempre tão aborrecidas (embora necessárias, muitas vezes), agendas. Felizmente há uns poucos que marcam a diferença e ainda vão à procura de histórias... Mas na Era em que a verificação de dados é feita na Wikipedia, não posso deixar de sentir um estranho saudosismo em relação a uma outra Era que não cheguei a conhecer: a do telefone. Mas pronto, é uma chatice que o Sr. Professor nos faça ligar para entidades e não nos deixe usar um motor de busca. Deve ser por isso que o Jornalismo passou a ser uma profissão sentada.


Enfim, mas como este post se chama Justificações, eu vou continuar com elas.
Fui à Holanda. meti-me num autocarro, paguei dois euros e já lá estava. Eu nem tinha percebido, para ser sincera, só quando os espanhóis me disseram que íamos à coffeeshop. Bem, para dizer a verdade, nem aí. Ainda pensei durante uma boa hora que eles quisessem ir beber café e comer bolinhos. Depois lá comecei a reparar na matrícula dos carros e havia muitos NL... Inocências à parte, ou ignorâncias, como lhe quiserem chamar, passei umas boas horas à chuva e ao frio. O Sol mentiroso que nos enganou quando saímos de casa fez-me escolher roupinha fashion e ignorar o guarda-chuva. Portanto, mal cheguei, fui tomar um banho quente e enfiar o pijama. Nem cozinhei, que não estava com paciência! Roubei um pedacinho da costeleta do Giacomo, juntei-lhe pão e recolhi-me ao meus aposentos. Aliás, não são os meus aposentos, agora. Tive de abandonar o quarto que me fez feliz, mas uma amiga que foi a Itália e já volta emprestou-me as chaves do quarto dela enquanto não resolvo o problema com o meu. Portanto, sou uma sem abrigo na Bélgica, o que vale é que já fiz amiguinhos e tenho seis pessoas a oferecer um cantinho no quarto delas durante o mês de Março. Em Abril, já volto a ter quartinho aqui na residência. Por agora andei a acartar malas para o terceiro com um elevador avariado. Mas tecnicamente foram o Giacomo e o Xabi a arrastar a bagagem pelas escadas.

Semana preenchida, esta...E hoje faz um mês que aqui estou!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Diz que por aqui também há aulas...

Os leitores manifestaram-se e com toda a razão!
Com tanto passeio e tanta festa, até parece que não vou às aulas! E vou, juro que vou!

A faculdade, a XIOS, é grande, maior do que a ESCS, sem dúvida, e nos primeiros dias parece um labirinto. Depois, como faço sempre os mesmos caminhos, a coisa torna-se mais fácil. Se levo bicicleta entro pelas traseiras, que não posso estacionar a dita em frente à entrada principal. Acho que não sei voltar ao refeitório, apesar de ter lá estado uma vez. Deve ter sido, sem dúvida, um mecanismo de defesa. Comi uma mistela que parecia  ser massa com bacon, natas, brócolos e cenoura. Escolhi aquilo porque era fácil de explicar às senhoras da cantina. "Pasta!" E pronto. Não sei dizer espetadas gordurosas e batatas fritas moles naquele flamengo que eles falam. mas não me apetecia tantos fritos, de qualquer forma. Isto torna as minhas idas à cantina muito limitadas, porque se em Portugal temos o bacalhau e na Espanha a paella, na Bélgica temos os fritos. E eu não vou lá muito com o cheiro daquilo! 

Portanto, basicamente, só vou à faculdade  ter aulas. Às Segundas tenho Televisão. Já aprendi a editar em Final Cut. E desta vez aprendi mesmo, porque o meu colega de grupo falta tanto que eu tenho de fazer tudo sozinha. Para a semana mudamos de professor e começamos a fazer reportagens. Às Terças tenho Media Planning. O professor manda mil coisas para fazer, mas ninguém faz porque ele fala com a boca fechada e não se percebe aquilo que ele diz. Isto é de manhã. À tarde tenho Inglês... É uma cena que os alunos estrangeiros têm de fazer. É chato. Depois de cinco minutos percebi que era  a melhor da turma. Às vezes tenho de me controlar para não responder e dar uma oportunidade aos outros. Os espanhóis ficam séculos a tentar descobrir como se diz cabelo ondulado, por exemplo. E eu fico ali a tentar não parecer snobe. Às Quartas tenho Marketing Analysis. Ando a a ver a variedade de gel de banho que existe no mercado e tenho de fazer um estudo sobre a Nivea no fim. Às Quintas tinha Turismo, mas desisti ao perceber que era a pessoa na minha residência com o horário mais preenchido. Também sou aquela que menos precisa de ir às aulas, uma vez que só me falta uma cadeira para acabar o curso e só a posso fazer em Lisboa. Portanto fico com um dia livre durante a semana. Às Sextas a coisa fica pesada. É o dia em que entro mais cedo, logo às nove. E também é o dia depois das saídas de Quinta-feira... Mas eu vou. Vou porque é o dia das cadeiras mais giras: Current Affairs e International Publishing. Adoro! Na primeira discutimos a actualidade e aprofundamos conhecimentos sobre situações da moda, tipo Israel ou Egipto ou a falta de governo na Bélgica. Na segunda apresentamos todas as semanas um jornal feito por nós. Esta semana sou Chefe de Redacção, o que significa que tenho de rever todos os textos. Todos temos de escrever dois artigos de 6000 caracteres. Em inglês. É um desafio! Mas fiquei motivada logo na primeira aula quando o professor elogiou o meu texto "This is very well done! Do you have literary ambitions?" E depois desatou a explicar que os meus próximos textos teriam de ser mais "jornalísticos", mas que mais tarde me daria rédea solta à criatividade. Não, a sério, ele até me disse o que é que era o lead da notícia! Mas pronto, não faz mal nenhum recordar.

As aulas passam-se bem. os amigos da residência são, na maioria, os meus colegas de turma. E isso também ajuda! Até agora faltei três vezes: uma porque não quis ir, outra porque me doía a cabeça e a terceira porque quando acordei o quarto estava a andar à roda. Juro! Eu achei aquilo muito esquisito e resolvi voltar a dormir. E quando acordei, quatro horas mais tarde, já tinha voltado tudo ao lugar. 

E só para que fique registado: as salas de edição aqui  estão equipadas com cerca de quarenta Macs... É o paraíso das Maçãs!



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

E o fim de semana foi assim...

Ora bem, a vida de Erasmus começa a intensificar-se e eu agora passo as tardes livres a beber chá na cozinha com os espanhóis, ou uma cerveja de framboesa na esplanada (aqui as esplanadas têm aquecedores), também com os espanhóis.
Não há muito por onde fugir. Quando eu estava em Lisboa os espanhóis eram meus vizinhos e agora continuam a sê-lo, desta vez porta com porta. Isto torna mais fácil o contacto. Foi só baterem três vezes e trocarmos meia dúzia de palavras que ficou feito o acordo: ir passar o fim-de-semana a Gent. Cidadezinha a umas duas horas de Hasselt, onde também se fala esta língua de cão que eu não entendo. Disseram-me que tinha muitas coisas giras para ver, como catedrais antigas, pontes e casinhas típicas.

Então lá fomos.
Combinámos sair cedo e apanhar o comboio das onze. Apanhámos o do meio-dia.
Nunca pensei que houvesse alguém pior do que eu para sair de casa!As espanholas são vaidosas. Pintam-se muito e enchem-se de penduricalhos. E, apesar de vocês saberem que, em Lisboa, me maquilho todos os dias e não saio de casa sem estar toda enfeitada, a verdade é que aqui sou um nadinha mais prática. Quer dizer, eu ia andar duas horas de comboio! Enfiei umas leggings, uma camisola comprida, pus de rímel, blush e estava pronta. A Marina e a Elisa não. A Marina ia de vestido e a Elisa estava maquilhada como se fosse sair à noite. Quando chegámos a Gent já tinha o lápis preto a escorrer-lhe pela cara...A cidade é linda de morrer, mesmo estando debaixo daquela chuva molha parvos que caracteriza a Bélgica. Torres lindíssimas, cavalos a puxar carruagens, pontes de pedra... Parece que estou a falar outra vez de Bruges, mas a verdade é que é muito diferente, muito mais urbana! É maior, tem mais lojas da moda e mais sítios para sair à noite. E como queríamos experimentar os afamados bares de Gent, reservámos um hostel. Ficámos seis num quarto: eu, três espalholas, o Xabi e o Giacomo, o italiano. Havia quatro camas individuais e uma de casal. Atirámos os rapazes imediatamente para lá, só porque sim. 

O hostel era um mimo! Todo muito branquinho, muito moderno e limpinho. O quarto era espaçoso e decidimos que a festa ia ser iniciada lá. Umas sandes no supermercado, algumas bebidas e muitos jogos. Chegou a vez do “Eu Nunca”, aquele jogo perigoso em que se dizem as verdades e se bebe ao mesmo tempo. Ora, aquilo que se diz no “Eu Nunca” é como o Erasmus: o que acontece por lá, por lá fica! Vou dizer apenas que, de repente, o Giacomo ficou muito assustado por dividir a cama com o Xabi! Mais tarde ainda lhe perguntei se não se sentia confortável, se queria trocar, mas ele disse que não havia problema. Eu pensei que pudesse haver, porque, quando resolvemos ir a um bar gay, o Giacomo disse que não entrava. Mas convenci-o com um “se não gostares, eu vou contigo a outro sítio”. Ele não se divertiu muito, mas acabou por ficar porque o resto do grupo adorou. E como não adorar? Backstreet Boys, Spice Girls, Britney Spears e até a Nicole e o Ewan, num dueto do Moulin Rouge. Muito épico! Eu entretanto tinha os collants rasgados e um rapaz lá do bar prontificou-se para rasgar mais “porque ficava com muito estilo”. Ok, vamos a isso! Acabou mesmo a tempo de dançarmos ao som da banda sonora de Grease.

A noite em Gent levou um selo de aprovação. A paisagem também. Os chocolates são bons, claro. Mas ainda não descobri um único sítio desta terra onde se coma bem. Viva ao Subway, que há em todo o lado por aqui! Bem, na residência come-se surpreendentemente bem! Os espanhóis fazem umas tortillas divinais e o novo italiano, o Alessandro, já prometeu uma carbonara mesmo à italiana, que a deles não leva natas! Parece que, afinal, não vai ser a gastronomia belga a fazer-me dar umas voltas extra na bicicleta...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

I'll take you to the candy shop - Parte II






Achei  piada. Assim, no meio da rua, às claras, sem vergonhas. Diferente das sex shop que vi até hoje em Portugal. Olha, era o projecto de empreendorismo que eu queria fazer e o meu grupo não deixou!

Era uma vez...

...uma cidade onde casinhas de pedra se dispunham harmoniosamente lado a lado, todas elas com florzinhas amarelas nos canteiros e jardins bem arranjados em frente à porta. Em frente às janelas havia varandas que davam para canais onde passavam barcos cheios de pessoas sorridentes. Canais, esses, onde nadavam cisnes imponentes e pequenos patos trapalhões. Aqui e ali podiam ser vistas torres e muralhas abraçados por trepadeiras, bem como cavalos a trote, puxando carruagens, em cima de pontes de pedra.

Podia ser um cenário de um conto de fadas, mas é de Bruges, que falo.

Capital da Flandres, a cidade é conhecida como a "Veneza do Norte", devido aos canais que a atravessam. Bem, eu já estive em Veneza e tenho a dizer que as duas cidades não têm mais nada em comum a não ser meter água por todos os lados. Bruges, nota-se logo, é uma cidade bem mais europeia, ao contrário da cidade italiana, que tem aqueles ares quentes do povo do Mediterrâneo. De quente Bruges não tem nada, de facto... Talvez no Verão seja ligeiramente amena, mas por agora ficam-me gravados na memória o mau feitio do vento e as gotas da chuva inclemente. A menina Bruges já não vai para nova. Há lá muralhas que datam de 1128, ano em que a cidade adquiriu um maior estatuto. E vi também muitas casinhas do século XV, todas elas em melhor estado de conservação do que muitas da Baixa que já foram construídas depois do terramoto.

Enfim, saímos cedo para não perder o comboio. E perdemos, claro. Toca a esperar uma hora pelo segundo, que isto ao fim-de-semana parece que pára o mundo! Mas nós não parámos e lá fomos deliciar-nos com a paisagem, com a companhia uns dos outros, com as waffles cobertas de doce de morango, com o guia turístico (o primeiro belga giro que vimos) e com as toneladas e toneladas de chocolate que se empilhavam nas montras, sim, porque a vista também se alimenta!




Ficámos lá o dia todo e vimos todos os pontos interessantes. Lá por volta das oito corremos para o comboio e fomos a dormir até Bruxelas, depois de prometermos que nada nos ia tirar da cama até às duas da tarde do dia seguinte. Porém, a meio do caminho, precisamente quando conseguíamos avistar o átomo lá ao fundo, recebemos todos uma mensagem no telemóvel: "let's go to Cafe Latino tonight?" E fomos, claro que fomos! E não voltámos a fechar os olhos até lá para as cinco da manhã.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Deitar tarde e tarde erguer, não faz mal, que isto passa a correr

Ontem estava no meu canto a deprimir.
Sou meio tímida, portanto, apesar de ouvir música alta no andar de cima, deixei-me estar no meu quarto.
Ainda lá fui espreitar, mas como não vi ninguém conhecido, esgueirei-me de novo para o meu buraco.
E estava eu a maldizer a minha falta de aptidões sociais quando me batem à porta. Eram o Giaccomo e o Xabi. O Giaccomo é um italiano com quem almocei na faculdade, depois de termos ido comprar o nosso telemóvel belga. Nenhum de nós sabia onde ficava a loja, portanto pegámos nas bicicletas e fomos à descoberta. Aproveitámos e fomos ao Media Market comprar cabos para a internet. O Xabi é espanhol e tenho umas aulas com ele. Já nos conhecíamos do facebook, do grupo de Erasmus em Hasselt.

Nós os três fazemos anos em Março, todos peixinhos! Demo-nos bem imediatamente, talvez por temos chegado todos ao mesmo tempo. Ora bem, foram eles os meus salvadores ontem à noite! Traziam na mão copos de sangria e disseram-me que havia mais lá em cima. Sim, havia, mas acabou depressa. Com cinquenta pessoas numa cozinha pequena não podia durar muito tempo. Mas não faz mal, porque não faltavam mojitos e cerveja. Depois apareceu a Marina e o seu licor de café. "Cuidado, que te mata!", avisaram-me. Foi por isso que só bebi dois dedos. Perguntei ao Xabi quando é que íamos para a discoteca. Ele disse-me que seria quando a bebida acabasse. E assim foi. Pegámos nos casacos enquanto descíamos as escadas agarrados uns aos outros. Aqueles que beberam licor de café agarravam-se às paredes, também.

Dizem que a Versuz é a maior discoteca da Bélgica. Não sei porque é que a maior discoteca da Bélgica seria em Hasselt, mas resolvi não confirmar a informação. Para mim é a única discoteca que existe, portanto, seja boa ou má, para mim é a melhor.

Aquilo é enorme. A música  a minha onda: êxitos dos 80, êxitos da rádio, êxitos do house... Um êxito total! E bolinhas de sabão por todo o lado! Não sei se a bebida é cara porque não paguei nada. Isso faz-me pensar em como é que surgiram todas aquelas cervejas e shots. Ri-me bastante com a Marina. Ela disse que a cerveja não prestava porque vinha em copos de plástico. Ai, Bairro Alto!

No fim da noite fiz o meu cartão de membro da discoteca. A entrada é garantida e vai custar-me sempre três euros. Assim, fácil! Fotografia tirada na hora e tudo! Acho que aqui é assim em todo o lado. O meu cartão da faculdade também foi com a foto tirada na hora. Isso faz-me pensar que tenho um cartão da Hogeschool of Limbourg, e ando lá há uma semana, e nunca tive um cartão da ESCS!


Cheguei a casa às cinco da manhã. Não sei se cheguei a pôr o despertador para ir à aula das nove, só sei que dormi até às dez. Olhei para o relógio, dei meia volta na cama e continuei a dormir. Fi-lo até às duas da tarde, fiquei a preguiçar até às quatro e só aí fui tomar banho. Não vi a luz do dia.

Há pouco cozinhei uma mistela qualquer que metia ovos mexidos, arroz e fiambre. Não sei como é que consegui errar numa coisa tão simples! Vou culpar o sabor do fiambre, porque ovos e arroz sei fazer na perfeição.  Alguém pode mandar-me um livro de receitas? Acho que vou morrer à fome, por aqui! Há pouco vieram bater-me à porta: eram a Elisa e a Marina, com ar de ressaca. "Do you want to come with us to Bruges, tomorrow?" Hell, yeah! A capital da Flandres espera-me!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Os Aposentos Reais

Um cantinho para eu dormir, finalmente!
No número 51 da Kempische Steenweg fica uma residência onde a maioria fala espanhol. Na realidade, onde há alunos Erasmus aqui em Hasselt, há espanhóis. Quando eu cheguei acharam imensa piada e desataram a dizer que tinha de cozinhar bacalhau.


Depois de me ter despedido da minha mãe na estação,  arrastei as minhas malinhas pelas ruas até à residência. É um edifício branco e com bom ar, que não fica muito longe da faculdade. Seriam uns dez minutos a pé, mas isso para mim já não existe. Em Hasselt anda-se de bicicleta! Quase me espalhei ao comprido, há anos que não andava numa. E pensar que, depois de noites de bebedeira, há quem pegue na bicicleta e vá para casa... O Yago, um espanhol com quem tenho aulas, partiu o nariz assim!

Enfim, entrei no edifício, cheguei à porta número 10 e rodei a chave na fechadura. Depois de uma hora, o meu quarto ficou assim:







Isto não engana ninguém, quem mora aqui é uma menina!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Para adoçar a boca...



E sim, sabe tão bem como parece!

Amor de mãe

Eu acho que, com 22 anos, sou demasiado menina da mamã. E se é com muito orgulho que digo que sou uma princesa, isto de não cortar o cordão umbilical já é um caso mais bicudo. Há uma parte de mim que sente que não devia estar a dar esta despesa aos meus pais. Desde que tenho idade legal para trabalhar, só o fiz durante dois meses (ok, na verdade também não o fiz antes). Os meus pais sempre apostaram em mim: ensino com a cartilha na primária, colégio privado durante oito anos e mudanças de curso, sempre patrocinadas pela vontade de me ver vencer. Agora foi o Erasmus. Sei que, para muitos, dizer que se vai de Erasmus quer dizer que se vai para a borga. É claro que, daqui, espero muitas noites mal dormidas, muitos copos e muitas fotos de gente animada. Mas  não vim só à procura disso. Inscrevi-me em cadeiras de Publicidade e Marketing, área que me interessa bastante e sobre a qual gostaria de ter noções, e vim aprofundar algumas coisas do Jornalismo. Ter TV em inglês e Redacção, também em inglês, ajudar-me-á, espero, a preparar uma estadia prolongada em Londres. Outro objectivo era ver se me livrava do tal cordão que me prende pelo umbigo. Porém, depois de tantas tentativas falhadas de fazer a coisa certa, dei por mim a correr para o mesmo colo de sempre.

Já todos sabem da minha aventura com o quarto.
Hoje fui à procura de outro. Cheirava bem e tinha cozinha e casa de banho só para mim. Não era o ideal porque, quando se divide uma cozinha, fazemos mais amigos! Mas era agradável e ficava numa zona bonita, cheia de jardins A mulher mostrou-me o quarto e eu disse-lhe que ligava hoje, sem falta, a dar conta da minha decisão. Ela disse que sim, que tudo bem, e que esperava. Mais tarde liguei-lhe e ela disse que um rapaz foi lá, entregou dinheiro na hora e agora tem casa nova. Foi depois de mim, mas isso não interessa nada. Não interessa ética, não interessa compromisso, não interessa se quer ter consideração por outra pessoa. Pronto, a mim também não me interessa fazer negócio com alguém assim. Mas ter casa, isso sim, já era do meu interesse.

E a minha mãe não tem coragem para ir embora sem me deixar instalada. Portanto, toca de cancelar viagens e prolongar estadias no hotel.Eu não lhe pedi que viesse. No princípio até me irritou um bocadinho, porque eu queria era depender menos dos pais. Mas agora agradeço o facto de ter vindo. E apercebi-me de que, vir de Erasmus, com tudo pago pelos papás, não é nenhum grito de independência. É mais um investimento em nós, é mais um voto de confiança. Mas, ao pensar na merda de situação em que todos nós estamos - "para ser escravo é preciso estudar" - encho-me de medo que essa confiança em mim depositada seja o mesmo que atirar pérolas aos porcos...

Enfim, mas como tristezas não pagam dívidas, acabo com uma nota mais alegre: já fiz amigos! E vou viver para a mesma residência que eles, pelo menos durante um mês. Isto aconteceu graças a uma senhora simpática que, mesmo tendo as vagas todas preenchidas, me fez o jeitinho de ficar num quarto para dois ao preço de um, pelo menos até Março. Assim dá-me tempo de procurar outra coisa enquanto vivo feliz. Afinal ainda há pessoas com quem vale a pena negociar...

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A Casa dos Horrores

O quarto que aluguei foi-me recomendado pela faculdade onde vim estudar. Os belgas têm fama de ser gente civilizada. E a escola recomendava-me vivamente que eu viesse para Hasselt já com casa. Três razões que me levaram a fazer algo que todos sabem que não deve ser feito: dar dinheiro por uma casa sem antes ver como ela é.

O Sr. Trudo, o senhorio, chegou 15 minutos atrasado. Eu estranhei, porque dizem que as pessoas dos países frios chegam a horas a todo o lado. Deve ser por andarem a correr, a ver se não congelam... Enfim, mas quando o Sr. Trudo apareceu já eu tinha tocado à campainha. Apareceu-me um rapaz de barba mal feita (e não, não era a charmosa de três dias) assim com ar de quem não estava à espera de que lhe batessem à porta. Não falámos por muito tempo, porque entretanto chegou o senhorio e o tal rapaz desapareceu na escuridão de um quarto que ficava lá ao fundo. Encolhi os ombros e pensei que talvez fosse um inadaptado social. Foi quando ouvi choro de bebés. Sim, porque aquilo não era só um bebé! E os putos berravam a plenos pulmões. Eu olhei muito confusa para o Sr. Trudo. Ele tinha-me dito que ali só viviam estudantes, mas eu ouvia crianças que ainda não tinham idade para andar na escola. Enfim, lá fiz uma piada sobre bebés barulhentos e subi as escadas para ver o meu quarto.

Enquanto percorria o corredor pensei para comigo mesma: "Toca a cancelar os convites que fiz para me visitarem na Bélgica, não tenho coragem de trazer ninguém aqui". Sim, isto passou-me pela cabeça, mas na altura calei a voz da razão que me gritava para voltar para trás e fugir a sete pés.

Estava eu quase a chegar à porta do quarto e passa um "negão" enorme à minha frente. Mas tipo, enorme! E ia com uma daquelas t'shirts sem mangas, que, outrora, tinha sido branca. Olhem, eu sou meio preta, por isso não estão questões raciais em cima da mesa. Era mais o facto de ele ser enorme, aquela t'shirt mal amanhada e a possbilidade de ter de partilhar a casa de banho com aquele senhor. Sim, ele já ia nos trinta, com certeza. O Trudo garantiu-me que ele era estudante e eu acredito. Mas quando pensamos em Erasmus imaginamos gente da nossa idade, gente com quem queremos sair e apanhar bebedeiras. E não era o caso. Segui-o com o olhar: levava nas mão uma tigela suja e dirigiu-se para uma divisão que deveria ser a cozinha. Só vi por uma frestinha, mas tive de me controlar para não me benzer. Nisto já eu tinha lançado um olhar de pânico à minha mãe, um olhar que dizia "a primeira coisa que farei com o meu futuro salário será pagar a despesa que tiveste, mas, por favor, nem que eu volte para Lisboa, não me deixes ficar aqui".

Eu sou uma princesa. É verdade, não tenho vergonha de o admitir. Fui tratada como uma durante toda a vida e não saí do meu cantinho confortável em Portugal para me vir meter numa pocilga. Sim, porque a história continua.

Fui ver o quarto. Não estava mal de todo. Mobília nova misturada com mobília velha (e não, não era do estilo avant-garde com vintage), mas nada grave. Achei piada foi quando o Sr. Trudo foi abrir a janela para exibir "a vista maravilhosa para o jardim". Quer dizer, agora acho piada, na altura tremiam-me as pernas! Tinha um belo de um muro à frente, isso é verdade.

O senhorio já estava a puxar do contrato e eu, com voz trémula, detive-o: "Wait, I want to see the kitchen and the bathroom". E foi aí que o feeling que eu tivera se revelou acertado.
A cozinha cheirava mal. Louça suja por todo o lado, gordura entranhada nos lugares mais improváveis, pilhas e pilhas de louça suja! Eu já vi muitas cozinhas desarrumadas e bastante gordurosas. Mas aquela tinha um cheiro que ainda me está a dar voltas ao estômago! Mas seu achava que a cozinha fedia, era porque ainda não tinha visto a casa de banho. Ou cheirado. Esgoto. Esgoto puro. E eu só pensava que tinha de dividir aquela divisão com o senhor da t'shirt emporcalhada!

Já tinha visto o suficiente. O tal do Trudo (que tinha sebo no cabelo, já agora), ainda me queria mostrar a máquina de lavar roupa, mas eu disse que não era preciso. Li nos olhos da minha mãe que ela nunca iria deixar-me ali. Ainda me tentou convencer, o Trudo. Disse que viviam mais dois rapazes belgas no andar de cima. Rapazes que iam a casa todos os fins-de semana.

Saldo: (2 marmanjos + 2 rapazes com quem não ia desenvolver qualquer espécie de relação + 2 bebés) x imundice = 400 euros que não sei se vão ser recuperados.


Amanhã vou ver um quarto às oito e meia da manhã. Wish me luck!

Finalmente, Hasselt!


Aqui faz frio p'ra caralho. Não tenho outra forma de dizer isto. Tenho a cara a pelar por causa do frio, coisa que eu julgava só acontecer com exposição prolongada ao Sol. Ai, o Sol! Não é que aqui não haja, mas parece que está estragado porque não aquece coisa alguma!

Em Bruxelas estava mais quentinho (ok, menos frio), apesar de ter passado uma hora inteirinha a enregelar na estação. No tempo em que fiquei à espera do comboio que me levaria a Hasselt, ia fazendo uns sudoku de um livro que levava na mala. A minha mãe foi à procura de um multibanco e eu fiquei ali sentada, a guardar a bagagem. Nisto chega um rapazinho novo, bom aspecto, sorrisinho engraçado, a solicitar informações sobre um tal de argent, que, se bem me lembro, é dinheiro em francês. Foi aí que chegou a minha mãe e correu com o pobre rapaz em dois tempos! Deste tive pena, que era simpático e só queria uma informação. Daquele que encontrei quando fui à procura de um elevador é que... Bem, digamos que queria eu que a minha mamã estivesse lá nesta altura. Tinha manchas de vinho na camisola branca e as unhas tinham o aspecto de quem se esquecia de lavar as mãos com regularidade. Livrei-me dele como pude e fui a correr para a plataforma pelas escadas rolantes - o elevador tresandava a fluídos humanos. É verdade, pelos vistos não é só em Portugal que se faz xixi na rua! Se bem que aqui só cheirei, não vi propriamente. E na estação do Campo Grande vi, mas isso é uma história diferente.

Mal cheguei à plataforma, mais atenção masculina, acompanhada de um "Ça va?" sonoro. E lá fui eu, a correr para as saias da mãe, de onde não deveria ter saído.

Enfim, uma hora e meia depois estava em Hasselt.
Cidadezinha simpática! No centro encontrei uma H&M, o que me deixou imensamente feliz. Até caíram uns flocos de neve assim ralinhos! Para mim, que nunca vi neve, foi uma alegria!

Fiquei uns dias no hotel, a fazer tempo para conhecer o meu lar doce lar... Julgava eu! A coisa, afinal, saiu bem amarga...

domingo, 30 de janeiro de 2011

De Lisboa para Bruxelas

Morro de medo de andar de avião. Seis dias antes da viagem, já eu sonhava com turbulências e máscaras de oxigénio a cair do tecto. Por isto (e por outras razões)até deu jeito que a minha mãe tenha resolvido vir comigo.

Foi a tentar não pensar nisso que lá me arrastei para o aeroporto às seis da manhã, depois de dois dias sem ir à cama. Uma dica: se vais de Erasmus, não guardes as malas para a véspera, nem que tenhas exame de Semiologia. Ou então certifica-te de que poderás dormir horas a fio quando chegares ao destino. Antes de embarcar já eu sabia que a minha mãe tinha falado com uma amiga que vive em Bruxelas. Mas não é uma amiga qualquer... É uma amiga que é embaixadora de Angola, pelo que goza de muitos privilégios. Um deles é o motorista que nos iria levar directamente, a mim e à minha mãe, do aeroporto para o hotel. Portanto, o descanso era garantido!

Despedidas, beijinhos e uma choradeira desenfreada! Da minha parte, claro... Foi quando disse adeus ao gato, quando disse adeus ao namorado, quando disse adeus aos dois irmãos (que não são de sangue) e quando disse adeus ao pai.

Lá atravessei o aeroporto e cheguei à porta 26. Fui pela manga e parei em frente à entrada do avião, para me certificar de que entrava com o pé direito. "Está nervosa?", perguntou o Comandante. "Não esteja, que é uma sortuda, até traz aí um coração!" E trazia... Um coração que uns amiguinhos muito queridos me deram e que eu fiz questão de levar ao meu lado durante a viagem. Para a tripulação fiquei conhecida como a menina do coração.

A viagem correu bem. Acalmei definitivamente quando trouxeram a comida. Por pior que seja, há uma magia qualquer em torno da comida do avião. Não sei o que é, mas ela alegra-me! Acho que me distrai dos muitos pés de altitude.

No aeroporto de Bruxelas, lá estava o Sr. João, o motorista, à nossa espera. E depois de uma tarde a dormir, levou-nos para casa da Sra. Embaixadora Amiga da Minha Mãe. Isto de ser embaixador deve ser muito bom, porque temos motoristas, casas grandes e cozinheiras fabulosas que fazem um bolo de chocolate do outro mundo. Ficou o convite para regressar lá a casa quando passar por Bruxelas outra vez. E assim o farei! A cidade merece ser vista em condições e eu só lá estive de passagem - o átomo só o vi ao longe. No dia seguinte apanhei o comboio e fui para Hasselt, uma zona em que, em vez do melódico francês, se ouve uma qualquer língua de cão que eu sou incapaz de descodificar!

O início

Quando cheguei ao fim do terceiro ao ano do curso de Jornalismo e percebi que tinha dois cadeirões pendurados - Semiologia e Análise Económica, está claro - pensei que tinha de fazer o possível e o impossível para passar.

Mas havia uma ideia que sempre me passara pela cabeça: fazer Erasmus num quarto ano da faculdade. Num quarto ano eu já não teria obrigações para com a Associação de Estudantes. Num quarto ano já teria ido a semanas de Praxe suficientes. Num quarto ano já teria passado tanto tempo na ESCS que o enjoo natural de quem passa tanto tempo num barco seria mais que suficiente para me levar a fazer as malas para longe.

Acabei por não ir para tão longe assim. A Bélgica é já ao lado de Portugal, a cerca de duas horinhas de avião. E porquê Hasselt? A faculdade tem programas para alunos Erasmus em inglês e a cidade é simpática, acolhedora e cheia de vida. Pelo menos foi o que me disseram e eu acreditei.

Resta-me viver os próximos meses ao máximo e verificar por mim própria a veracidade da informação. Este blog serve para que, aqueles que assim o desejarem, possam acompanhar-me nesta viagem, que eu espero que seja fantástica! Nem que seja para eu ter coisas interessantes que possa contar aqui. ^^