sábado, 7 de maio de 2011

Saudade é uma palavra bem portuguesa

O único lugar onde sou capaz de ficar horas a fio sem fazer nada é na praia. Adoro ficar ali estendida, qual lagartixa, e, por favor, não me macem com raquetes ou com bolas de voleibol, que eu não suporto essas coisas. O único tipo de movimento que consigo admitir é o de me virar, ora de barriga para cima, ora de barriga para baixo. E ir até à água, claro, e ficar a chapinhar lá por um bocado. Sem ondas, de preferência. Sim, eu sou extremamente aborrecida na praia e gosto de ficar ali a curtir a minha música ou a ler o meu livrinho sem ser incomodada. Ou, simplesmente, a dormitar. Ora bem, aqui em Hasselt estão vinte e sete graus. Temperatura mais que convidativa para procurar um bocadinho de areia e um bocadinho de mar. O problema é que esse bocadinho de areia e esse bocadinho de mar estão a quase três horas de distância. Ah, e o mar chama-se Mar do Norte, facto que não me inspira muita confiança no que à sua temperatura diz respeito. Como o único lugar em que consigo estar sem fazer nada é a praia, levantei o meu rabinho da minha caminha e fui aproveitar o calor que se faz sentir na rua. Os Belgas estão loucos. As meninas tiraram os short shorts do armário e até os homens andam de sandálias. Estão todos vermelhuscos, das horas passadas no parque a levar com os raios ultravioleta. Resolvi imitá-los e comi um gelado de maracujá. Também andei a ver lojas e descobri   paraíso-dos-sapatos-acessíveis-à-minha-carteira-já-que-não posso-comprar-uns-Louboutin. Foram uns bons quarenta e cinco minutos de entretenimento, mas depois voltei a sentir-me aborrecida. Nestes lazy days, quando está Sol e não se faz nada na residência, batem as saudades. Sinto falta do peixe-espada com molho de manteiga e das amêijoas à bulhão-pato. Tenho saudades de não ter de olhar para uma lista de cem cervejas quando quero beber qualquer coisa fresquinha. Faz-me falto o areal pequenino e desconsolado da linha de Cascais e as praias com ondas a mais (para mim, que sou preguiçosa) lá para os lados da Caparica. Quero ir para um Starbucks com o meu computador, jantar a ver o Tejo e sair para o Bairro Alto. Quero algo tão simples como um pastel de nata! E quero, mais que tudo, ter conversas a sério. O mal de ser a única portuguesa aqui do sítio é que todas as conversas estão limitadas a um determinado vocabulário, lá está, muito limitado! A maioria dos Espanhóis é demasiado preguiçosa para puxar pela cabeça e falar em Inglês durante muito tempo. Outros não são assim tão preguiçosos, mas simplesmente não conseguem. E depois, eu, com o meu Espanholês (que está a melhorar muito, diga-se de passagem), não consigo ser levada a sério por muito tempo. Então pronto, os temas de conversa ficam-se por dizer mal do grupo dos manientos, manifestar saudades da comida da mãe e comentar os atributos físicos dos médicos da Anatomia de Grey. Sim, é verdade que estou a exagerar…. Mas, resumindo e concluindo, e aqui fica o porquê de tanta queixa, o que me faz falta é um amigo do peito. Antes tinha o Italiano, mas ele arranjou uma namorada Espanhola e o Erasmus deles acabou, agora é só “Orgasmus”. Ele era o único que era capaz de acompanhar o ritmo do meu Inglês, cada vez mais acelerado. E sim, eu tento falar mais devagar, usar palavras mais fáceis, mas a verdade é que para as Espanholas é mais fácil desatarem a falar lá na língua delas do que fazerem o esforço. Desde que descobriram que eu consigo perceber tudo aquilo que dizem, então, nunca mais se preocuparam muito. E, não me interpretem mal, 99,9% das vezes eu vivo perfeitamente bem com isto e divirto-me à grande na mesma. Mas hoje… Hoje é o meu lazy day!
Fica então um abraço apertadinho ao Tiago e ao bolo de nozes caseiro a altas horas da madrugada, à Cátia Bruno e aos doces de perder a cabeça do Chiado, à Travassos e às pizzas de frango e natas, ao Ricardo e aos cafés que duram quatro horas, à Maria Inês e às peças de roupa fantásticas que só ela consegue descobrir, ao Diogo e ao sorriso que é capaz de me emprestar seja em que altura for, ao Rúben e ao café que ainda vai acontecer, aos Centeno e às festas que só eles fazem, ao Pombo e aos chás que ainda quero provar, à Cláudia e ao Marco e a todos os bocadinhos bem passados, à Rita e aos croissants ao lado da ESCS, à Joana e à Ana e às conversas de gente crescida, ao Nando e à amizade que permanece mesmo que não nos vejamos tantas vezes quanto gostaria… Enfim, peço desculpa se me esqueci de alguém, mas se têm saudades minhas eu também tenho vossas, muito provavelmente. E um obrigada muito especial a todos aqueles que estão a seguir e que me dão na cabeça por eu não publicar textos.
E pronto, lamechices à parte, eu volto em breve para falar de Amesterdão.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Actualizações

OK, sei que não tenho dado notícias aqui no blog, mas a verdade é que, apesar de ser tudo muito giro, tem sido mais do mesmo. Agora que me começo a habituar, a vida não é assim muito diferente de Lisboa… bem, há muito menos stress e chatices, mas a verdade é que também há menos amigos para conversar.

Não me interpretem mal! Eu estou perfeitamente integrada e divirto-me sempre com as pessoas daqui. E não só… Quando precisei tive quem fosse comigo ao médico ver das minhas amígdalas ranhosas, que se inflamam duas vezes por ano, e aqui não foi excepção. Também me emprestaram dinheiro quando dei conta que tinha deixado a carteira em casa na altura de pagar o frango que mais tarde seria o meu jantar. E também me ouviram falar durante horas sobre as minhas dúvidas existenciais em relação ao futuro profissional. Mas falta alguma coisa. Faltam os velhos amigos, as pessoas em quem confio de olhos fechados. Só a título de exemplo, no outro dia houve um rali tascas. Tudo muito bonito, mas eu com muita cerveja preciso de ir muitas vezes à casa de banho. E numa das minhas quinhentas deslocações ao piso superior do bar onde a dita cuja se encontrava, regresso para descobrir que tinham ido para o bar seguinte sem mim. Mais tarde falei com alguns deles e disseram-me que acharam que eu tinha ido para casa… Minha gente, se eu for para casa, aviso! Enfim, o trauma foi grande o suficiente para ficar com medo de apanhar bebedeiras, não saber voltar à residência e não ter um guia! Bem, mas era mais fácil isso acontecer por causa do meu péssimo sentido de orientação do que pela quantidade de álcool ingerida. É que eu sou muito forreta. Para beber duas cervejas, já vou nos seis euros… E a maior parte das vezes uma só já é suficiente para me deixar (mais) vulnerável a ataques de riso.
Dizia eu, antes destas divagações, que tem sido um bocadinho mais do mesmo. Acordo, vou às aulas (normalmente é só uma), almoço pela residência, fico na conversa na cozinha, ouço música, vou ao ginásio, tomo banho, janto e vamos até um bar qualquer. Às vezes vemos filmes. Eu e a Marina, a galega, temos visto Anatomia de Grey. Ela faz-me o favor de ver em inglês com legendas em espanhol, antes via dobrado. Credo. Imagino o episódio das cantorias em espanhol. “Glee meets Grey: Spanish Version - una experiencia traumática que nunca olvidará”. Agora, que tem estado calor vamos almoçar ao parque muitas vezes. Vamos de bicicleta. Primeiro compramos entrecosto já grelhado no mercado, uns pacotes de batatas, cerveja, sumos e lá vamos nós. Está sempre cheio de gente sedenta de Sol! E não há cocó de cão. Isto acontece às Terças, porque é quando o mercado está aberto. Às Sextas também está, mas estamos a dormir porque Quinta-feira é noite de Versuz, a discoteca cá do sítio. Lá está, vamos sempre aos mesmos sítios. Acho que as coisas que mais me fazem falta é um jantar fora, um cinema, umas lojas abertas depois das seis da tarde… Mas por um lado, ainda bem que não estão abertas. Se fecham tão cedo e já é o que é, se fechassem tarde era uma desgraça. Vou precisar de um truque de magia para levar as coisas para Lisboa, quando isto acabar. A roupa tem-se multiplicado no meu armário e há quem julgue que ando a fazer criação. Mas há duas H&M num espaço de dez minutos  a pé. E uma Zara. E uma loja de sapatos com coisas giríssimas e não muito caras. Enfim, este é um problema que trouxe de Lisboa e que vou sempre levar comigo, para onde quer que vá.
Mas ora bem, planos para sair desta rotina, que, apesar de ser agradável, não deixa de ser, lá está, rotineira: o namorado vem cá seis dias, aproveitar as férias da Páscoa, minhas e dele! Yay! De certeza que vou dar uns passeios por Bruxelas e Bruges, na próxima semana. Depois, logo em seguida, Amesterdão! Vem aí época festiva na Holanda  e parece que é diversão a não perder. E depois recomeçam as aulas... Mas eu às vezes juro que me esqueço de que estou de férias… Para mim é como se elas já tivessem começado em Janeiro, desde que vim para aqui. É, a vida de Erasmus é muito complicada!


PS: Obrigada por me espicaçar, caro Anónimo do comentário ao post anterior!

quinta-feira, 31 de março de 2011

Alunos em fuga

Acordei às oito e meia da manhã sem saber muito bem a que horas seria a minha aula. O horário mudou esta Segunda-feira e eu ainda estou um bocadinho confusa. Mandei uma mensagem a uma das espanholas e a resposta não podia ter sido pior: às nove. Muito bem, meia hora para me vestir e tomar o pequeno-almoço. Não sei porquê, desde que vim para aqui sou incapaz de sair de casa sem o tomar. A minha mãe é que vai ficar muito contente com este hábito recém-adquirido! Enfim, lá devorei o mais depressa que consegui a mistura de corn flakes, iogurte natural e bocadinhos de maçã e voei para a faculdade. Já lá estavam a Paula e o Xino. Ficámos os três à espera do Professor até às 09h15. A Paula espreitou pela janela e viu-o a atravessar o parque de estacionamento. Nesta altura, eu, que estava toda encolhida num canto, a dormir encostada ao aquecedor, disse com voz de sono: "We should run!" Qual não é o meu espanto quando a Paula e o Xino desatam a  correr pelas escadas de serviço! E lá me levantei e fui atrás deles. Voltei a casa e dormi até à uma da tarde. Quero frisar que não é sempre assim. Aquela aula é muito maçadora e ainda ninguém percebeu muito bem o que estamos lá a fazer. Aquilo chama-se Current Affairs e era suposto falarmos sobre o que se passa no mundo, mas só falamos da Bélgica e da sua falta de governo! Pronto, foi uma vez sem exemplo, e eu estava mesmo a precisar de dormir!

sábado, 26 de março de 2011

O Ginásio

Quando para aqui vim, já trazia a ideia de que deveria aproveitar este tempo para me dedicar exclusivamente a mim mesma. Estava mais preocupada com questões do espírito e com resoluções face a um futuro próximo que me vai atirar para o mercado de trabalho, mas já vinha com vontade de procurar um ginásio. Durante séculos prometi a mim mesma que agora é que era, que ia transformar algum deste bom bocado de perna em músculo, para continuar a ser bom mas mais rijinho. O agora demorou a chegar, mas chegou. Isto de ter tempo livre e de viver numa cidade pequena onde o ginásio é a cinco minutos, muda tudo! E o facto de pagar 25 euros por mês - em Lisboa, o mais barato que consegui foram 50 - também ajuda muito!

É francamente divertido. Aqui da residência somos para aí nove inscritos,  portanto há sempre alguém que arrasta o outro para o ginásio quando a preguiça parece prestes a vencer. No princípio ia para as máquinas:  alinhávamo-nos todos nas passadeiras e era ver-nos correr durante meia hora. bem, na verdade, eu era mais a andar depressa. Correr não é a minha cena, que me dá dor de burro. Passava mais tempo nos abdominais e nos agachamentos. Depois descobri as aulas. Comecei por ir às de Zumba. A Zumba é uma espécie de aeróbica em que se misturam passos de mambo, salsa e essas coisas latinas. Uma pessoa farta-se de saltar e de abanar as ancas... Quem as consegue abanar, claro. É sempre divertido ver as belgas a tentar! A mim a professora veio perguntar-me se eu já tinha dançado antes. Eu sabia que os anos de ballet, dança criativa, hip hop e danças de salão ainda iam servir para alguma coisa. Bem, a verdade é que o facto de ela vir falar comigo serviu para me motivar e a experimentar mais aulas. Existe o Sh'bam, que é também uma dança toda acelerada, em que uma pessoa salta muito e abana os músculos todos. Cansa para burro! Mas é capaz de ser a mais divertida, seguida de perto pela tal de Zumba. Depois resolvi experimentar o Body Pump. Não sabia muito bem ao que ia e assustei-me quando vi o pessoal a tirar barras e pesos e steps e colchões. Uma montanha de apetrechos! A professora lá pôs a tocar o Telephone da Lady Gaga e dei por mim a levantar e a baixar uma barra de quatro quilos. A meio troquei para dois, porque achei os meus braços se iam desfazer em papa se eu continuasse por muito mais tempo. E como se não chegasse, a senhora ainda nos pôs a fazer flexões. E eu que nem uma conseguia fazer, depois de três aulas de Body Pump já sou capaz de fazer três. É uma grande conquista! Sim, eu sou masoquista e voltei às aulas de Body Pump. Sempre que saio de lá venho a arrastar-me para casa e acabo completamente imóvel em cima da cama. Também experimentei o Step, mas para mim aquilo é muito confuso e não atino com os passos. Se bem que apreciei o exercício abdominal a que somo submetidos lá mais para o fim da aula.

No ginásio também descobri a Sauna. Mas meter-me numa sala fechada onde está muito, muito calor e onde as belgas se põem todas nuas e escancaradas, não é muito a minha cena. Por acaso foi giro de ver: eu e as espanholas todas num cantinho embrulhadas em toalhas e uma senhora dos seus cinquenta e muitos ali toda nua a ocupar o mesmo espaço que eu e três das minhas amigas ocupávamos.

Resumindo e concluindo, tenho ido cinco dias por semana ao ginásio. Se não servir para eu ir exibir o melhor corpo de biquíni de sempre no Verão em Portugal, pelo menos já serviu para me divertir e para me sentir com mais energia. E sempre dá para controlar os estragos que o Erasmus pode fazer. É que para além das waffles e batatas fritas, existem as massas do Italiano, o chocolate que há sempre alguém que me oferece, as tortilhas espanholas e as pizzas para quando não apetece cozinhar. Ontem, por acaso, jantei salada. Mas já compensei devidamente com o meio pacote de bolachas que comi esta manhã.

terça-feira, 22 de março de 2011

Três dias em Estocolmo



No dia 3 deste mês fui a Estocolmo. Fui convencida pelos meus amiguinhos daqui com uma viagem de oito euros, ida e volta, e a promessa de que teria alguém a segurar a minha mão durante o voo, porque eu borro-me de medo dos aviões! Na véspera estávamos todos descansadinhos a almoçar - às quatro da tarde e ainda em pijama - quando entra a Virginia pela cozinha dentro com uma expressão de pânico no rosto. "Amanhã há greve dos comboios, temos de ir ainda hoje para o aeroporto e passar lá a noite", disse ela. E pronto, foi uma correria. Oito macacos a meter roupa para dentro das malas, a despachar trabalhos que tinham de ser entregues antes do fim-de-semana e a fazer sandes para a noite, que se adivinhava longa.

Chegámos ao aeroporto e ainda eram onze da noite. A viagem estava marcada para as nove e meia da manhã e, como tal, arranjámo-nos como pudemos par ficarmos minimamente confortáveis. Perto da meia-noite os rapazes italianos, o Alessandro e o Giacomo, chamaram-me discretamente. "O que foi?", perguntei. E mostraram-me uma garrafa de champanhe. "É para os anos do Xabi, que são amanhã... Distrai-o!" E lá levei o Xabi à máquina de café, para investigar que bebidas para lá havia. Dez minutos depois fomos rodeados pelos outros e eu acabei por levar um banho de champanhe por solidariedade para com o aniversariante... E afinal não era uma, mas quatro garrafas. Portanto, pobres, a dormir no chão do aeroporto,  mas com champanhe.

Já perto da hora de embarque alinhámo-nos todos na fila para mostrar o nosso bilhete de identidade. A Marina procurava, procurava e não encontrava e, já perto das lágrimas, disse que o tinha deixado no bolso das calças do dia anterior. Nos tentámos tudo: fomos à Polícia dizer que alguém tinha roubado a carteira - e pusemos os guardas a ver as camaras de vigilância - fomos ao balcão da Ryanair, propusemos ir até à embaixada espanhola para arranjar identificação provisória... Mas nada! A Marina ficou mesmo em terra e eu nesta altura já só queria ficar com ela. Lá tiveram de me convencer a embarcar outra vez e, quando me sentei no avião, tinha mais gente a querer dar-me a mão do que mãos para lhes dar!
Quando chegámos a Estocolmo fui surpreendida pela neve. Sim, já me tinham dito que, muito provavelmente, ia encontrá-la, mas nunca pensei que fosse naquela quantidade! Eu nunca tinha visto neve na vida e para mim os primeiros cinco minutos foram muito lindos, depois confesso que fiquei enjoada. Ora bem, a neve pode ser muito branquinha e muito bonita, mas tem um inconveniente: para nevar é preciso estar muito frio. Muito, muito frio! E eu tinha uma tshirt, duas camisolas e um colete. E o casaco gigante e feio que dói por cima. Mas eu queria lá saber de modas! Ainda enfiei um gorro, umas leggings, calças e dois pares de meias daquelas de lã, muito grossas. À minha volta os suecos andavam a dizer que estava muito calor e que parecia quase Verão. Eu acho que aquela gente não sabe viver. Vi montes de indivíduos quietos, cara voltada para o Sol e olhos fechados, a aproveitar o "calorzinho". Era como se estivessem na praia, mas cheios de cachecóis e luvas e afins. Enquanto isso comiam gelados e eu desesperada por uma bebida quente. Outra coisa chata dos países frios é o gelo no chão. De que serve não ter na Suécia a calçada portuguesa que não deixa andar de saltos, se temos uma fina camada de perigo iminente? A minha derrière não aprovou. Andei dorida por três dias!

Mas sim, é tudo muito bonito. Eu no fim até disse que era giro ir para uma casinha de praia com uns trinta graus lá fora e ter postais da Suécia pendurados na parede. Aquelas paisagens davam postais mesmo giros! E lá na Suécia têm cidra, aquela espécie de cerveja com sabor a pêssego, frutos vermelhos, pêra... Eu gostei muito e estava a beber muito entusiasmada até perceber que cada uma tinha 10% de álcool. Não teve importância, ao fim de quattro já nada me deixava muito aborrecida.

Enfim, Estocolmo é, de facto, uma cidade muito bonita. Não a achei muito prática, mas deve ser uma questão de hábito porque vi lá uma rapariga com uns saltos enormes e também vi um homem a correr (o que me fez ter vergonha de parecer uma pata choca a andar na rua). Gostava de a ver no Verão porque me disseram que é tudo muito verdinho, mas não é este ano, de certeza! Depois de tantos dias na arca frigorífica, em Julho vou mas é para a praia e para os quarenta graus à sombra, que lá é que se está bem!



quarta-feira, 16 de março de 2011

A vizinha do lado

Não conheço quem não tenha um vizinho com um parafuso a menos.
O de uma amiga minha atirou-se da janela. O de um amigo meu fazia todos os dias sessões dignas de uma canal para adultos. E o meu, lá de Lisboa, foi oferecer um livro de sadomasoquismo à minha mãe porque ela foi muito boa médica. Um livro escrito por ele! Ora bem, esse vizinho gosta de me dar beijos repenicados quando me vê e, como é jornalista, gosta de me convidar para um ou outro trabalho - que, regra geral, envolvem algum escândalo relacionado com prostituição. É bom senhor, coitado,  mas eu, antes de sair de casa, verifico sempre se ele está no meu caminho. É que, às vezes, não apetece mesmo nada estar ali a fazer sala no meio do hall do prédio!

Mas quando vim aqui para as Bélgicas, já sabia que ia continuar a ter vizinhos. E isso assustava-me um bocadinho, confesso. Também, com as histórias que para aí se ouvem, não admira nada! Quem não conhece o caso da Amanda Knox, a rapariga com cara de anjo acusada de estar envolvida na morte da colega de casa, após uma série de joguinhos sexuais? E, diga-se de passagem, eu aqui moro no ground zero, aquele em que uma pessoa acorda assustada no meio da noite porque os bêbedos estão a bater à janela...Portanto, tranco-me toda e nunca, em caso algum, abro as cortinas.

Um dia destes estava eu a dormir descansadinha da vida, quando, por volta das dez da manhã, alguém bate à minha porta. Dez da manhã já é uma hora normal de se acordar, então levantei-me, meio a custo, e abri a porta. Era uma rapariga gira que eu já tinha visto andar por ali. Trazia os olhos vermelhos e uma expressão carregada. " Eu não queria incomodar... E se calhar vais achar-me maluca por isto, mas tenho de te perguntar: viste o meu namorado, aquele rapaz com quem estava ontem, com outra rapariga?" Amaldiçoei o momento em que me levantei para abrir a porta. Não, não tinha visto. E numa tentativa de mostrar empatia lá convidei a moça para entrar e sentar-se um bocadinho. Maldita a hora em que o fiz...

Ora vamos lá ver como é que se resume isto!
A rapariga é do Ruanda. Veio para cá estudar e tem um nível de inglês que sim, senhora! Deu-me luta, e aqui ainda não tinha encontrado ninguém que o fizesse - não porque sou muito boa, eles é que são muito maus. Tem dezanove anos e já teve uma mão cheia de namorados. O primeiro foi reles, meio a brincar, meio a sério. O segundo era branco  e, segundo ela, os brancos não prestam porque são muito morninhos e maus na cama. "Ele chamava-me de princesa! Eu não sou uma princesa, eu tenho uma vida dura!", queixava-se ela... Depois veio o preto. Segundo ela os pretos são bons na cama, mas um pouco agressivos. "Se te batem estás lixada!", disse-me ela. E lá sabia do que falava. O primeiro preto que namorou não, que era um amor, mas o segundo fez-lhe a vida negra. E o olho e o braço e o nariz e a perna e mais qualquer coisinha lá para o meio. Depois de lhe dar porrada da primeira vez, voltou com um taco de basebol. Como ela não lhe abriu a porta, ele esticou-se em frente à casa dela, à espera de que um carro lhe passasse por cima. Não passou. Ao que parece aquela rua era meio parada. Acho que o rapaz não voltou a dar sinais de vida, mas não tenho a certeza. Ela saltou directamente para o Marroquino, que é o namorado actual, o tal que ela temia estar a pular a cerca. "Eu acho que ele tem medo de mim", disse ela. "Eu bato-lhe com os tacões dos saltos". Pois, eu compreendo o rapaz, a partir daquele momento eu também fiquei com medo. "Ele é meio atrasado! Eu discuto com ele e faço birra e ele, o que é que faz? Leva-me para hotéis! Eu digo que não estou bem e ele saca dos cartões de crédito. É para os hotéis e para as compras! Basta eu ligar e ele vem a correr!" E eu que tinha começado aquela conversa com um "tens de largar esse rapaz", nesta altura já estava a pensar "foge, rapaz, foge!" E não sei porque raio ela me veio perguntar se eu tinha visto o namorado com outra rapariga, se foi ela quem acabou por me confessar que faltava ao Marroquino alguma coisa nas partes baixas - encontrou-a com outros rapazes por diversas vezes e continuou a deixar o cartãozinho de crédito à disposição de sua excelência.
Enfim, lá acabei por despachar a menina... Ao fim de hora e meia, não sei se por ser parva, se por ter ficado petrificada com a história dela! Dias depois conheci o Said, o namorado corno. Pediu-me o facebook e disse que o meu cabelo era lindo. Fugi a sete pés. Eu cá não quero confusões com a maluca da vizinha.

Guess who's back

Depois de passeios em Estocolmo e de soprar vinte e três velinhas em Lisboa (foram só duas, mas isso não interessa nada), estou de volta com histórias e novidades!

Obrigada a todos aqueles que foram aparecendo por aqui, em busca de algum pedacinho de texto.