quarta-feira, 16 de março de 2011

A vizinha do lado

Não conheço quem não tenha um vizinho com um parafuso a menos.
O de uma amiga minha atirou-se da janela. O de um amigo meu fazia todos os dias sessões dignas de uma canal para adultos. E o meu, lá de Lisboa, foi oferecer um livro de sadomasoquismo à minha mãe porque ela foi muito boa médica. Um livro escrito por ele! Ora bem, esse vizinho gosta de me dar beijos repenicados quando me vê e, como é jornalista, gosta de me convidar para um ou outro trabalho - que, regra geral, envolvem algum escândalo relacionado com prostituição. É bom senhor, coitado,  mas eu, antes de sair de casa, verifico sempre se ele está no meu caminho. É que, às vezes, não apetece mesmo nada estar ali a fazer sala no meio do hall do prédio!

Mas quando vim aqui para as Bélgicas, já sabia que ia continuar a ter vizinhos. E isso assustava-me um bocadinho, confesso. Também, com as histórias que para aí se ouvem, não admira nada! Quem não conhece o caso da Amanda Knox, a rapariga com cara de anjo acusada de estar envolvida na morte da colega de casa, após uma série de joguinhos sexuais? E, diga-se de passagem, eu aqui moro no ground zero, aquele em que uma pessoa acorda assustada no meio da noite porque os bêbedos estão a bater à janela...Portanto, tranco-me toda e nunca, em caso algum, abro as cortinas.

Um dia destes estava eu a dormir descansadinha da vida, quando, por volta das dez da manhã, alguém bate à minha porta. Dez da manhã já é uma hora normal de se acordar, então levantei-me, meio a custo, e abri a porta. Era uma rapariga gira que eu já tinha visto andar por ali. Trazia os olhos vermelhos e uma expressão carregada. " Eu não queria incomodar... E se calhar vais achar-me maluca por isto, mas tenho de te perguntar: viste o meu namorado, aquele rapaz com quem estava ontem, com outra rapariga?" Amaldiçoei o momento em que me levantei para abrir a porta. Não, não tinha visto. E numa tentativa de mostrar empatia lá convidei a moça para entrar e sentar-se um bocadinho. Maldita a hora em que o fiz...

Ora vamos lá ver como é que se resume isto!
A rapariga é do Ruanda. Veio para cá estudar e tem um nível de inglês que sim, senhora! Deu-me luta, e aqui ainda não tinha encontrado ninguém que o fizesse - não porque sou muito boa, eles é que são muito maus. Tem dezanove anos e já teve uma mão cheia de namorados. O primeiro foi reles, meio a brincar, meio a sério. O segundo era branco  e, segundo ela, os brancos não prestam porque são muito morninhos e maus na cama. "Ele chamava-me de princesa! Eu não sou uma princesa, eu tenho uma vida dura!", queixava-se ela... Depois veio o preto. Segundo ela os pretos são bons na cama, mas um pouco agressivos. "Se te batem estás lixada!", disse-me ela. E lá sabia do que falava. O primeiro preto que namorou não, que era um amor, mas o segundo fez-lhe a vida negra. E o olho e o braço e o nariz e a perna e mais qualquer coisinha lá para o meio. Depois de lhe dar porrada da primeira vez, voltou com um taco de basebol. Como ela não lhe abriu a porta, ele esticou-se em frente à casa dela, à espera de que um carro lhe passasse por cima. Não passou. Ao que parece aquela rua era meio parada. Acho que o rapaz não voltou a dar sinais de vida, mas não tenho a certeza. Ela saltou directamente para o Marroquino, que é o namorado actual, o tal que ela temia estar a pular a cerca. "Eu acho que ele tem medo de mim", disse ela. "Eu bato-lhe com os tacões dos saltos". Pois, eu compreendo o rapaz, a partir daquele momento eu também fiquei com medo. "Ele é meio atrasado! Eu discuto com ele e faço birra e ele, o que é que faz? Leva-me para hotéis! Eu digo que não estou bem e ele saca dos cartões de crédito. É para os hotéis e para as compras! Basta eu ligar e ele vem a correr!" E eu que tinha começado aquela conversa com um "tens de largar esse rapaz", nesta altura já estava a pensar "foge, rapaz, foge!" E não sei porque raio ela me veio perguntar se eu tinha visto o namorado com outra rapariga, se foi ela quem acabou por me confessar que faltava ao Marroquino alguma coisa nas partes baixas - encontrou-a com outros rapazes por diversas vezes e continuou a deixar o cartãozinho de crédito à disposição de sua excelência.
Enfim, lá acabei por despachar a menina... Ao fim de hora e meia, não sei se por ser parva, se por ter ficado petrificada com a história dela! Dias depois conheci o Said, o namorado corno. Pediu-me o facebook e disse que o meu cabelo era lindo. Fugi a sete pés. Eu cá não quero confusões com a maluca da vizinha.

2 comentários:

  1. Tu põe-te a pau, chavala. Põe-te a pau!!! LOl

    Bjs, Catarina

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  2. Muita história aí pela bélgica já vi :)
    Sê feliz :) Beijo!

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