domingo, 27 de fevereiro de 2011

Justificações

Isto de ter de escrever 12000 caracteres em reportagens todas as semanas torna as actualizações do blog muito complicadas! Fico dois dias inteiros em frente ao computador a verificar o tradutor do Google e a espreitar o dicionário de Inglês... Isto para não dizer que o Sr. Professor exige que façamos um trabalho original, ou seja, nada de fazer como os jornalistas a sério, que vão buscar as fontes à Lusa. Nós temos de fazer um trabalho nosso, com pesquisa nossa. E isso deixou-me a pensar... Agora os jornalistas a sério ficam com o rabo sentado na cadeira do escritório à espera de que as notícias lhes venham cair no colo. Até nas redacções televisivas se andam a cuscar uns aos outros para saber quem abre o jornal da noite com o quê e limitam-se seguir as sempre tão aborrecidas (embora necessárias, muitas vezes), agendas. Felizmente há uns poucos que marcam a diferença e ainda vão à procura de histórias... Mas na Era em que a verificação de dados é feita na Wikipedia, não posso deixar de sentir um estranho saudosismo em relação a uma outra Era que não cheguei a conhecer: a do telefone. Mas pronto, é uma chatice que o Sr. Professor nos faça ligar para entidades e não nos deixe usar um motor de busca. Deve ser por isso que o Jornalismo passou a ser uma profissão sentada.


Enfim, mas como este post se chama Justificações, eu vou continuar com elas.
Fui à Holanda. meti-me num autocarro, paguei dois euros e já lá estava. Eu nem tinha percebido, para ser sincera, só quando os espanhóis me disseram que íamos à coffeeshop. Bem, para dizer a verdade, nem aí. Ainda pensei durante uma boa hora que eles quisessem ir beber café e comer bolinhos. Depois lá comecei a reparar na matrícula dos carros e havia muitos NL... Inocências à parte, ou ignorâncias, como lhe quiserem chamar, passei umas boas horas à chuva e ao frio. O Sol mentiroso que nos enganou quando saímos de casa fez-me escolher roupinha fashion e ignorar o guarda-chuva. Portanto, mal cheguei, fui tomar um banho quente e enfiar o pijama. Nem cozinhei, que não estava com paciência! Roubei um pedacinho da costeleta do Giacomo, juntei-lhe pão e recolhi-me ao meus aposentos. Aliás, não são os meus aposentos, agora. Tive de abandonar o quarto que me fez feliz, mas uma amiga que foi a Itália e já volta emprestou-me as chaves do quarto dela enquanto não resolvo o problema com o meu. Portanto, sou uma sem abrigo na Bélgica, o que vale é que já fiz amiguinhos e tenho seis pessoas a oferecer um cantinho no quarto delas durante o mês de Março. Em Abril, já volto a ter quartinho aqui na residência. Por agora andei a acartar malas para o terceiro com um elevador avariado. Mas tecnicamente foram o Giacomo e o Xabi a arrastar a bagagem pelas escadas.

Semana preenchida, esta...E hoje faz um mês que aqui estou!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Diz que por aqui também há aulas...

Os leitores manifestaram-se e com toda a razão!
Com tanto passeio e tanta festa, até parece que não vou às aulas! E vou, juro que vou!

A faculdade, a XIOS, é grande, maior do que a ESCS, sem dúvida, e nos primeiros dias parece um labirinto. Depois, como faço sempre os mesmos caminhos, a coisa torna-se mais fácil. Se levo bicicleta entro pelas traseiras, que não posso estacionar a dita em frente à entrada principal. Acho que não sei voltar ao refeitório, apesar de ter lá estado uma vez. Deve ter sido, sem dúvida, um mecanismo de defesa. Comi uma mistela que parecia  ser massa com bacon, natas, brócolos e cenoura. Escolhi aquilo porque era fácil de explicar às senhoras da cantina. "Pasta!" E pronto. Não sei dizer espetadas gordurosas e batatas fritas moles naquele flamengo que eles falam. mas não me apetecia tantos fritos, de qualquer forma. Isto torna as minhas idas à cantina muito limitadas, porque se em Portugal temos o bacalhau e na Espanha a paella, na Bélgica temos os fritos. E eu não vou lá muito com o cheiro daquilo! 

Portanto, basicamente, só vou à faculdade  ter aulas. Às Segundas tenho Televisão. Já aprendi a editar em Final Cut. E desta vez aprendi mesmo, porque o meu colega de grupo falta tanto que eu tenho de fazer tudo sozinha. Para a semana mudamos de professor e começamos a fazer reportagens. Às Terças tenho Media Planning. O professor manda mil coisas para fazer, mas ninguém faz porque ele fala com a boca fechada e não se percebe aquilo que ele diz. Isto é de manhã. À tarde tenho Inglês... É uma cena que os alunos estrangeiros têm de fazer. É chato. Depois de cinco minutos percebi que era  a melhor da turma. Às vezes tenho de me controlar para não responder e dar uma oportunidade aos outros. Os espanhóis ficam séculos a tentar descobrir como se diz cabelo ondulado, por exemplo. E eu fico ali a tentar não parecer snobe. Às Quartas tenho Marketing Analysis. Ando a a ver a variedade de gel de banho que existe no mercado e tenho de fazer um estudo sobre a Nivea no fim. Às Quintas tinha Turismo, mas desisti ao perceber que era a pessoa na minha residência com o horário mais preenchido. Também sou aquela que menos precisa de ir às aulas, uma vez que só me falta uma cadeira para acabar o curso e só a posso fazer em Lisboa. Portanto fico com um dia livre durante a semana. Às Sextas a coisa fica pesada. É o dia em que entro mais cedo, logo às nove. E também é o dia depois das saídas de Quinta-feira... Mas eu vou. Vou porque é o dia das cadeiras mais giras: Current Affairs e International Publishing. Adoro! Na primeira discutimos a actualidade e aprofundamos conhecimentos sobre situações da moda, tipo Israel ou Egipto ou a falta de governo na Bélgica. Na segunda apresentamos todas as semanas um jornal feito por nós. Esta semana sou Chefe de Redacção, o que significa que tenho de rever todos os textos. Todos temos de escrever dois artigos de 6000 caracteres. Em inglês. É um desafio! Mas fiquei motivada logo na primeira aula quando o professor elogiou o meu texto "This is very well done! Do you have literary ambitions?" E depois desatou a explicar que os meus próximos textos teriam de ser mais "jornalísticos", mas que mais tarde me daria rédea solta à criatividade. Não, a sério, ele até me disse o que é que era o lead da notícia! Mas pronto, não faz mal nenhum recordar.

As aulas passam-se bem. os amigos da residência são, na maioria, os meus colegas de turma. E isso também ajuda! Até agora faltei três vezes: uma porque não quis ir, outra porque me doía a cabeça e a terceira porque quando acordei o quarto estava a andar à roda. Juro! Eu achei aquilo muito esquisito e resolvi voltar a dormir. E quando acordei, quatro horas mais tarde, já tinha voltado tudo ao lugar. 

E só para que fique registado: as salas de edição aqui  estão equipadas com cerca de quarenta Macs... É o paraíso das Maçãs!



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

E o fim de semana foi assim...

Ora bem, a vida de Erasmus começa a intensificar-se e eu agora passo as tardes livres a beber chá na cozinha com os espanhóis, ou uma cerveja de framboesa na esplanada (aqui as esplanadas têm aquecedores), também com os espanhóis.
Não há muito por onde fugir. Quando eu estava em Lisboa os espanhóis eram meus vizinhos e agora continuam a sê-lo, desta vez porta com porta. Isto torna mais fácil o contacto. Foi só baterem três vezes e trocarmos meia dúzia de palavras que ficou feito o acordo: ir passar o fim-de-semana a Gent. Cidadezinha a umas duas horas de Hasselt, onde também se fala esta língua de cão que eu não entendo. Disseram-me que tinha muitas coisas giras para ver, como catedrais antigas, pontes e casinhas típicas.

Então lá fomos.
Combinámos sair cedo e apanhar o comboio das onze. Apanhámos o do meio-dia.
Nunca pensei que houvesse alguém pior do que eu para sair de casa!As espanholas são vaidosas. Pintam-se muito e enchem-se de penduricalhos. E, apesar de vocês saberem que, em Lisboa, me maquilho todos os dias e não saio de casa sem estar toda enfeitada, a verdade é que aqui sou um nadinha mais prática. Quer dizer, eu ia andar duas horas de comboio! Enfiei umas leggings, uma camisola comprida, pus de rímel, blush e estava pronta. A Marina e a Elisa não. A Marina ia de vestido e a Elisa estava maquilhada como se fosse sair à noite. Quando chegámos a Gent já tinha o lápis preto a escorrer-lhe pela cara...A cidade é linda de morrer, mesmo estando debaixo daquela chuva molha parvos que caracteriza a Bélgica. Torres lindíssimas, cavalos a puxar carruagens, pontes de pedra... Parece que estou a falar outra vez de Bruges, mas a verdade é que é muito diferente, muito mais urbana! É maior, tem mais lojas da moda e mais sítios para sair à noite. E como queríamos experimentar os afamados bares de Gent, reservámos um hostel. Ficámos seis num quarto: eu, três espalholas, o Xabi e o Giacomo, o italiano. Havia quatro camas individuais e uma de casal. Atirámos os rapazes imediatamente para lá, só porque sim. 

O hostel era um mimo! Todo muito branquinho, muito moderno e limpinho. O quarto era espaçoso e decidimos que a festa ia ser iniciada lá. Umas sandes no supermercado, algumas bebidas e muitos jogos. Chegou a vez do “Eu Nunca”, aquele jogo perigoso em que se dizem as verdades e se bebe ao mesmo tempo. Ora, aquilo que se diz no “Eu Nunca” é como o Erasmus: o que acontece por lá, por lá fica! Vou dizer apenas que, de repente, o Giacomo ficou muito assustado por dividir a cama com o Xabi! Mais tarde ainda lhe perguntei se não se sentia confortável, se queria trocar, mas ele disse que não havia problema. Eu pensei que pudesse haver, porque, quando resolvemos ir a um bar gay, o Giacomo disse que não entrava. Mas convenci-o com um “se não gostares, eu vou contigo a outro sítio”. Ele não se divertiu muito, mas acabou por ficar porque o resto do grupo adorou. E como não adorar? Backstreet Boys, Spice Girls, Britney Spears e até a Nicole e o Ewan, num dueto do Moulin Rouge. Muito épico! Eu entretanto tinha os collants rasgados e um rapaz lá do bar prontificou-se para rasgar mais “porque ficava com muito estilo”. Ok, vamos a isso! Acabou mesmo a tempo de dançarmos ao som da banda sonora de Grease.

A noite em Gent levou um selo de aprovação. A paisagem também. Os chocolates são bons, claro. Mas ainda não descobri um único sítio desta terra onde se coma bem. Viva ao Subway, que há em todo o lado por aqui! Bem, na residência come-se surpreendentemente bem! Os espanhóis fazem umas tortillas divinais e o novo italiano, o Alessandro, já prometeu uma carbonara mesmo à italiana, que a deles não leva natas! Parece que, afinal, não vai ser a gastronomia belga a fazer-me dar umas voltas extra na bicicleta...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

I'll take you to the candy shop - Parte II






Achei  piada. Assim, no meio da rua, às claras, sem vergonhas. Diferente das sex shop que vi até hoje em Portugal. Olha, era o projecto de empreendorismo que eu queria fazer e o meu grupo não deixou!

Era uma vez...

...uma cidade onde casinhas de pedra se dispunham harmoniosamente lado a lado, todas elas com florzinhas amarelas nos canteiros e jardins bem arranjados em frente à porta. Em frente às janelas havia varandas que davam para canais onde passavam barcos cheios de pessoas sorridentes. Canais, esses, onde nadavam cisnes imponentes e pequenos patos trapalhões. Aqui e ali podiam ser vistas torres e muralhas abraçados por trepadeiras, bem como cavalos a trote, puxando carruagens, em cima de pontes de pedra.

Podia ser um cenário de um conto de fadas, mas é de Bruges, que falo.

Capital da Flandres, a cidade é conhecida como a "Veneza do Norte", devido aos canais que a atravessam. Bem, eu já estive em Veneza e tenho a dizer que as duas cidades não têm mais nada em comum a não ser meter água por todos os lados. Bruges, nota-se logo, é uma cidade bem mais europeia, ao contrário da cidade italiana, que tem aqueles ares quentes do povo do Mediterrâneo. De quente Bruges não tem nada, de facto... Talvez no Verão seja ligeiramente amena, mas por agora ficam-me gravados na memória o mau feitio do vento e as gotas da chuva inclemente. A menina Bruges já não vai para nova. Há lá muralhas que datam de 1128, ano em que a cidade adquiriu um maior estatuto. E vi também muitas casinhas do século XV, todas elas em melhor estado de conservação do que muitas da Baixa que já foram construídas depois do terramoto.

Enfim, saímos cedo para não perder o comboio. E perdemos, claro. Toca a esperar uma hora pelo segundo, que isto ao fim-de-semana parece que pára o mundo! Mas nós não parámos e lá fomos deliciar-nos com a paisagem, com a companhia uns dos outros, com as waffles cobertas de doce de morango, com o guia turístico (o primeiro belga giro que vimos) e com as toneladas e toneladas de chocolate que se empilhavam nas montras, sim, porque a vista também se alimenta!




Ficámos lá o dia todo e vimos todos os pontos interessantes. Lá por volta das oito corremos para o comboio e fomos a dormir até Bruxelas, depois de prometermos que nada nos ia tirar da cama até às duas da tarde do dia seguinte. Porém, a meio do caminho, precisamente quando conseguíamos avistar o átomo lá ao fundo, recebemos todos uma mensagem no telemóvel: "let's go to Cafe Latino tonight?" E fomos, claro que fomos! E não voltámos a fechar os olhos até lá para as cinco da manhã.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Deitar tarde e tarde erguer, não faz mal, que isto passa a correr

Ontem estava no meu canto a deprimir.
Sou meio tímida, portanto, apesar de ouvir música alta no andar de cima, deixei-me estar no meu quarto.
Ainda lá fui espreitar, mas como não vi ninguém conhecido, esgueirei-me de novo para o meu buraco.
E estava eu a maldizer a minha falta de aptidões sociais quando me batem à porta. Eram o Giaccomo e o Xabi. O Giaccomo é um italiano com quem almocei na faculdade, depois de termos ido comprar o nosso telemóvel belga. Nenhum de nós sabia onde ficava a loja, portanto pegámos nas bicicletas e fomos à descoberta. Aproveitámos e fomos ao Media Market comprar cabos para a internet. O Xabi é espanhol e tenho umas aulas com ele. Já nos conhecíamos do facebook, do grupo de Erasmus em Hasselt.

Nós os três fazemos anos em Março, todos peixinhos! Demo-nos bem imediatamente, talvez por temos chegado todos ao mesmo tempo. Ora bem, foram eles os meus salvadores ontem à noite! Traziam na mão copos de sangria e disseram-me que havia mais lá em cima. Sim, havia, mas acabou depressa. Com cinquenta pessoas numa cozinha pequena não podia durar muito tempo. Mas não faz mal, porque não faltavam mojitos e cerveja. Depois apareceu a Marina e o seu licor de café. "Cuidado, que te mata!", avisaram-me. Foi por isso que só bebi dois dedos. Perguntei ao Xabi quando é que íamos para a discoteca. Ele disse-me que seria quando a bebida acabasse. E assim foi. Pegámos nos casacos enquanto descíamos as escadas agarrados uns aos outros. Aqueles que beberam licor de café agarravam-se às paredes, também.

Dizem que a Versuz é a maior discoteca da Bélgica. Não sei porque é que a maior discoteca da Bélgica seria em Hasselt, mas resolvi não confirmar a informação. Para mim é a única discoteca que existe, portanto, seja boa ou má, para mim é a melhor.

Aquilo é enorme. A música  a minha onda: êxitos dos 80, êxitos da rádio, êxitos do house... Um êxito total! E bolinhas de sabão por todo o lado! Não sei se a bebida é cara porque não paguei nada. Isso faz-me pensar em como é que surgiram todas aquelas cervejas e shots. Ri-me bastante com a Marina. Ela disse que a cerveja não prestava porque vinha em copos de plástico. Ai, Bairro Alto!

No fim da noite fiz o meu cartão de membro da discoteca. A entrada é garantida e vai custar-me sempre três euros. Assim, fácil! Fotografia tirada na hora e tudo! Acho que aqui é assim em todo o lado. O meu cartão da faculdade também foi com a foto tirada na hora. Isso faz-me pensar que tenho um cartão da Hogeschool of Limbourg, e ando lá há uma semana, e nunca tive um cartão da ESCS!


Cheguei a casa às cinco da manhã. Não sei se cheguei a pôr o despertador para ir à aula das nove, só sei que dormi até às dez. Olhei para o relógio, dei meia volta na cama e continuei a dormir. Fi-lo até às duas da tarde, fiquei a preguiçar até às quatro e só aí fui tomar banho. Não vi a luz do dia.

Há pouco cozinhei uma mistela qualquer que metia ovos mexidos, arroz e fiambre. Não sei como é que consegui errar numa coisa tão simples! Vou culpar o sabor do fiambre, porque ovos e arroz sei fazer na perfeição.  Alguém pode mandar-me um livro de receitas? Acho que vou morrer à fome, por aqui! Há pouco vieram bater-me à porta: eram a Elisa e a Marina, com ar de ressaca. "Do you want to come with us to Bruges, tomorrow?" Hell, yeah! A capital da Flandres espera-me!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Os Aposentos Reais

Um cantinho para eu dormir, finalmente!
No número 51 da Kempische Steenweg fica uma residência onde a maioria fala espanhol. Na realidade, onde há alunos Erasmus aqui em Hasselt, há espanhóis. Quando eu cheguei acharam imensa piada e desataram a dizer que tinha de cozinhar bacalhau.


Depois de me ter despedido da minha mãe na estação,  arrastei as minhas malinhas pelas ruas até à residência. É um edifício branco e com bom ar, que não fica muito longe da faculdade. Seriam uns dez minutos a pé, mas isso para mim já não existe. Em Hasselt anda-se de bicicleta! Quase me espalhei ao comprido, há anos que não andava numa. E pensar que, depois de noites de bebedeira, há quem pegue na bicicleta e vá para casa... O Yago, um espanhol com quem tenho aulas, partiu o nariz assim!

Enfim, entrei no edifício, cheguei à porta número 10 e rodei a chave na fechadura. Depois de uma hora, o meu quarto ficou assim:







Isto não engana ninguém, quem mora aqui é uma menina!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Para adoçar a boca...



E sim, sabe tão bem como parece!

Amor de mãe

Eu acho que, com 22 anos, sou demasiado menina da mamã. E se é com muito orgulho que digo que sou uma princesa, isto de não cortar o cordão umbilical já é um caso mais bicudo. Há uma parte de mim que sente que não devia estar a dar esta despesa aos meus pais. Desde que tenho idade legal para trabalhar, só o fiz durante dois meses (ok, na verdade também não o fiz antes). Os meus pais sempre apostaram em mim: ensino com a cartilha na primária, colégio privado durante oito anos e mudanças de curso, sempre patrocinadas pela vontade de me ver vencer. Agora foi o Erasmus. Sei que, para muitos, dizer que se vai de Erasmus quer dizer que se vai para a borga. É claro que, daqui, espero muitas noites mal dormidas, muitos copos e muitas fotos de gente animada. Mas  não vim só à procura disso. Inscrevi-me em cadeiras de Publicidade e Marketing, área que me interessa bastante e sobre a qual gostaria de ter noções, e vim aprofundar algumas coisas do Jornalismo. Ter TV em inglês e Redacção, também em inglês, ajudar-me-á, espero, a preparar uma estadia prolongada em Londres. Outro objectivo era ver se me livrava do tal cordão que me prende pelo umbigo. Porém, depois de tantas tentativas falhadas de fazer a coisa certa, dei por mim a correr para o mesmo colo de sempre.

Já todos sabem da minha aventura com o quarto.
Hoje fui à procura de outro. Cheirava bem e tinha cozinha e casa de banho só para mim. Não era o ideal porque, quando se divide uma cozinha, fazemos mais amigos! Mas era agradável e ficava numa zona bonita, cheia de jardins A mulher mostrou-me o quarto e eu disse-lhe que ligava hoje, sem falta, a dar conta da minha decisão. Ela disse que sim, que tudo bem, e que esperava. Mais tarde liguei-lhe e ela disse que um rapaz foi lá, entregou dinheiro na hora e agora tem casa nova. Foi depois de mim, mas isso não interessa nada. Não interessa ética, não interessa compromisso, não interessa se quer ter consideração por outra pessoa. Pronto, a mim também não me interessa fazer negócio com alguém assim. Mas ter casa, isso sim, já era do meu interesse.

E a minha mãe não tem coragem para ir embora sem me deixar instalada. Portanto, toca de cancelar viagens e prolongar estadias no hotel.Eu não lhe pedi que viesse. No princípio até me irritou um bocadinho, porque eu queria era depender menos dos pais. Mas agora agradeço o facto de ter vindo. E apercebi-me de que, vir de Erasmus, com tudo pago pelos papás, não é nenhum grito de independência. É mais um investimento em nós, é mais um voto de confiança. Mas, ao pensar na merda de situação em que todos nós estamos - "para ser escravo é preciso estudar" - encho-me de medo que essa confiança em mim depositada seja o mesmo que atirar pérolas aos porcos...

Enfim, mas como tristezas não pagam dívidas, acabo com uma nota mais alegre: já fiz amigos! E vou viver para a mesma residência que eles, pelo menos durante um mês. Isto aconteceu graças a uma senhora simpática que, mesmo tendo as vagas todas preenchidas, me fez o jeitinho de ficar num quarto para dois ao preço de um, pelo menos até Março. Assim dá-me tempo de procurar outra coisa enquanto vivo feliz. Afinal ainda há pessoas com quem vale a pena negociar...